quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

2012

Em 2012, desejo encontrar sempre os caminhos, ainda que tenha que recuar e recomeçar muitas vezes.
Em 2012, desejo nunca andar em círculos, mas se andar que saiba encontrar sempre alguma novidade em cada volta.
Em 2012, desejo que as pessoas que amo fiquem sempre perto.
Em 2012, desejo a loucura à inércia.
Em 2012, desejo que, de entre as faltas, nenhuma seja a do amor!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Não te adoro

Nunca me ouvirás dizer que te adoro porque adorar, adoro queijo, chocolate, whisky... das pessoas eu gosto, muito ou pouco.
Adorar é coisa de deuses, é coisa assim idolatrada como a minha adoração pela poesia.
Nunca me ouvirás dizer que te adoro, porque não adoro... amo-te!
Amo-te como, sempre, ama o amor!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Sono

O sono traz memórias pesadas.
Daquelas que se arrastam pelo chão riscado.
O seu eco não deixa espaço à paz do silêncio.
Este sono molda-me a vontade.
Altera-me o batimento regular do coração e das palavras.
Tudo se confunde numa mescla absurda.
A noite diz-me que a morte é o fim.
Mas é mentira…
O escuro é ardiloso e tolda a vista cansada.
Como cansado está já todo o corpo.
Inerte e endurecido na espera de uma imagem à qual jamais voltará.
O sono é este inferno onde os desejos gritam de dor.
É por isso, e só por isso, que teimo em não adormecer.

sábado, 26 de novembro de 2011

Os Teus Olhos

Olhos que queimam.
Olhos que rasgam.
Olhos que amam.
Olhos sem medo.
Olhos que vêem.
Olhos que assaltam.
Olhos sem sobressalto.
Olhos que guardam.
Olhos que abraçam.
São olhos como tantos outros.
São os teus.
E são meus, esses tais teus.
Meus, sempre que olham no fundo destes meus!

O Mundo Morre

A porta bate e as janelas escancaram-se num grito alto.
O vento entra num rompante de lamento aflito.
É frio e o ar pesado gela tudo.
A pele eriça-se num arrepio que vem do fundo.
O coração sangra e encolhe-se em defesa.
A folha cai em silêncio duro e seco.
A luz apaga-se num escuro solene e defunto.
E enfim, o mundo cai nessa espera em que sempre morre o mundo.

sábado, 15 de outubro de 2011

Eu Peço

Eu peço que se apaguem as luzes.
Que se tinjam as lágrimas.
Eu peço às flores explicações.
Complicadas e nunca achadas.
Eu peço ao lume que se alague.
Ou se murche dentro do peito.
Baú que se torce e entorpece.
Eu peço ao vento que afaste o véu.
A débil raia que me turva a vista.
É azeda esta lonjura que me habita.
Eu peço ao mar que me queime a pele.
Que nada toca ou nela perdura.
É insano todo o meu pensar.
Que tudo pensa e nada o satisfaz.
São pedidos irreais e excessivos.
Como demasiada sou toda eu.
Eu peço para calar a voz da minha pressa.
A vida ama-se devagar.
Eu peço calma nesta hora de te abraçar.

Tu Não Sabias

Tu não sabias da minha procura.
Da ânsia desmedida que enfurece o jardim.
Não sabias que te procuro sempre.
Mesmo quando já luz nenhuma alumia o caminho.
Eu sei que não sabias.
Tu não sabias da minha busca interna.
Incessante como as ondas de um mar revolto.
Bem sei que não sabias.
Eu sabia que desconheces os meus segredos.
Nunca soubeste desvendar os mistérios dos meus lugares.
Ermos, fatídicos como todo o meu jeito de amar.
Tu não sabias dos meus tropeços e arranhões.
Que arranhada sempre esteve a minha alma.
Fraca, encoberta num céu de saudade.
Tu não sabias, tu não conheces.
Eu sei que não sabias.
Se soubesses jamais terias partido.
Agora é escuro e não sei de luz nenhuma.

Medo

E sem querer eu era medo.
Um medo absurdo, um medo com culpa.
Não era capaz.
Continuar por entre sentimentos despovoados.
Não era mesmo capaz.
E sem querer eu mentia.
Escondia as aflições em sorrisos de paz.
E nos olhos que aprenderam a calar.
E sem querer desejava acabar.
O fim pareceu-me sempre menos doloroso.
Como se fosse só ali desligar a luz.
Mas eu tinha medo, sempre tive medo.
Não queria desvendar mais segredos.
Os passos falhavam tantas vezes.
Recuava e recusava com medo.
Não podia magoar-me mais.
Não podia corromper mais esperanças.
Não podia acreditar em mais teorias alheias.
Fingir sonhos e vontades.
O único desejo era partir, acabar com o mistério.
Ah… e o medo, esse imbecil.
E sem querer fugia da realidade.
Desta vida hipócrita de verdades montadas e vaidosas.
E então a saudade assaltava a alma, o corpo e tudo em redor.
E eu tinha medo de não conseguir matá-la nunca mais.
E sem querer ficava, ficava sempre.
E o medo ficava comigo também, sempre comigo.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Faz de Conta

Gestos destemidamente encenados.
Batimentos apartados do espírito.
E são quase perfeitos, quase quentes.
Falsos beijos, falsos abraços, falsos olhares.
Palavras fingidas como poesias e contos de encantar.
Denunciadas por tempestades de indiferença.
Nada se sente, nada toca ou mexe cá dentro.
Mas faz de conta...
Faz de conta que o amor é um cálculo preciso,
Faz de conta que o coração se pode remendar,
Faz de conta que não há máscara.
E a vida continua este teatro triste,
Que me convence de vez em quando a duvidar.
Esta pobreza de esconder verdades que não acaba.
Fingir que existe ou existiu alguma vez,
É muito pior do que nada ter de verdade!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Poesia

Contigo bebo do mais belo, que me eriça a pele.
És, de todas, a melhor companhia e outro par não quero.
Fazes-me voar e ver tudo com outra cor, com outro sentido.
Sempre que a ti me entrego, nasço de novo e me descubro.
Tu que não dominas as artimanhas nem os artifícios da sedução.
Mesmo assim me conquistas e desvendas os meus enigmas.
Tu que falas da verdade e da mentira e as misturas a teu gosto.
Ainda assim, és-me tão leal, de uma exactidão deveras fiel à realidade.
Só contigo me elevo e desprendo desta terra de matéria suja.
Tu sentes por mim, tu falas-me pelas mãos, pelos olhos, pela alma.
É amor, isto que sinto, amo-te como quem ama o grande amor.
É com orgulho que te faço parte mim, que me acompanhas sempre.
Quem mais senão tu atravessa os meus desterros emocionais.
És só tu quem me sustenta na falta, no deserto, na sede de sentir.
Tu abraças todas as distâncias, tu dás-me a mão quando me perco nos excessos.
Tens o dom de transformar toda a ânsia em calma, tu tens a sábia magia.
És o astro onde habito, és a luz que inspira o mundo.
És o regaço onde me escondo, muito mais do que um porto seguro.
Se para mim és tanto, de nada mais preciso.
Nomeio-te a eterna maravilha, digna de todo o culto e ímpar respeito.
Perante ti me ajoelho e pasmo, tu… o malmequer da vida.
Tu, só tu Poesia, minha e de toda a gente!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Não há pachorra

Não há pachorra para melancolias e embalos.
É já manhã e ouve-se o cantar dos galos.
Se não quiseste ficar, por certo não abraçaste.
Morre-se na ausência a chama que reclamaste.
Ah! Esta visão de cama vazia, de um tempo só.
Onde os desejos da noite se embebedam de pó.
Não há pachorra para grandes pedidos teatrais.
As promessas são sempre tão sujas, tão irreais.
E é nesta falsa leviandade que me escudo.
Tentando adormecer este corpo agora mudo.
Não há pachorra para espalhar mais lágrimas.
Que murchem os pensamentos e as lástimas.
Pela janela aberta vejo partir a dor, o lamento.
Que o melhor destino é deixá-los ir no vento.
Ah…! E já disse, não há pachorra!

Só Assim

Quero a paz que os teus olhos prometeram.
Todo o céu que eram os teus braços.
Preciso que tragas de volta a estima.
Na plenitude de todas as suas formas.
Quero a verdade que a tua boca proferiu.
Sem pausas nem exclamações de dúvida.
Não quero deitar-me em mentiras aveludadas.
Recosto a cabeça na areia.
O mar diz-me que a calma quer deitar-se comigo.
Aceito essa companhia que serena a espera.
Preciso que a esperança se afirme e inunde a raiva.
Desprezo todo o alarde das nostalgias da ilusão.
E toda a insolência das penitências em que mergulhei.
Quero que deixes de ser um reflexo da imaginação.
Aconchego-me na areia…
Descubro que quero amor inteiro, primitivo.
De antigo que seja só esta intensa simplicidade de amar.
Isso de carregar uma cruz é antiquado, cheira a mofo.
Quero-te completo e despido de falso.
Descubro que só te quero assim.
E que de outro modo não preciso.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Jardim das Virtudes

Venho cá de vez em quando
Vejo um rio correr pró mar
Uma neblina vai-se formando
Abre-se o peito numa aragem
E desvendo as virtudes do amar

Ao longe vejo a ponte, o luar
Deixo-me ficar neste jardim
No escuro oiço o Douro respirar
Banho o coração nesta paisagem
Embalada numa noite sem fim

Benditos os recantos da cidade
Os bancos de pedra gastos e sós
São lugares que acalmam a ansiedade
No silêncio passam-nos a mensagem
Desatam-se cá dentro todos os nós

Com muita paz e grande calma
Neste lugar sereno, me deixo dormir
Jazem aqui os pesos da minha alma
E assim cá me fortaleço da coragem
De partir em busca de um novo sentir

Tentar de Novo

Pede-me verdades infinitas.
Pede-me a lealdade eterna.
Pede-me promessas ditas.
Pede-me a minha mão terna.

Exige um apaixonante motim,
Disso terás um majestoso confim!

Rouba-me o inquietante medo.
Rouba-me a pesada solidão.
Rouba-me o escuro degredo.
Rouba-me a eterna negação.

Exijo um sentimento carmim,
Disso há em mim um sem fim!

Dou-te a minha alma aberta.
Dou-te um céu de desvelo.
Dou-te a sublime descoberta.
Dou-te o meu corpo estrelo.

Implora-me o espinhoso perdão,
Desejo em mim a tua absolvição,
Em espera arde o meu coração,
Numa já longa e letal aflição!



 in "Ousadia de Sentir"

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Recomeça

O mundo continua a ser o mundo.
Essa espada não trespassa o tempo.
Não vêm milagres da tua mão.
Há cansaço e não nascem frutos neste chão.
Segue pela estrada nova que te surge.
Já não importa que as nuvens choquem.
Ou que o teu caminho, com o dele, não se cruze.
Se tiver que ser, que se enlameie o coração.
Se possível, que não haja pressa que mate a vontade.
Acalma a alma no mar da verdade.
Alteia a bandeira do triunfo, esse e só esse,
Que se banha na aragem do voltar a começar.
Porque o mundo, não te esqueças, continua a ser o mundo!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Iguais

Vejo olhares carregados de misericórdia.
São penas extrapoladas de verdades nada familiares.
Não são só desconhecidos nas suas vidas.
Entram nas realidades alheias por ínfimos momentos.
Vistos de cima somos todos tão iguais.
Patéticos, apalhaçados, descontrolados, animais.
Somos tão comoventemente vazios.
Almas pálidas e corpos impregnados de lixo.
Tornamo-nos destroços do que fazemos uns com os outros.
Deambulamos nesta sobrevivência de predadores e vítimas.
Uma espécie de vampiros acomodados nos seus interesses.
Cheira a tristezas escondidas em danças de exibição.
Montras de sorrisos construídos de plástico e enfeitados de falso.
Réplicas destorcidas.
Queremos parecer perfeitos, escrupulosamente interessantes.
Falho sempre neste passo, já não me debato.
Prego os olhos no tecto e balanço ao som da bebida.
Quero sair daqui e cansar a loucura ao descer a rua.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Fim

Não sei onde dói, nem sei se dor é o que sinto.
Descubro que o caminho é longo.
E a espera cansa a alma e espanta a calma.
Sinto qualquer coisa que desconheço.
Dor não será por certo, mas magoa-se cá dentro.
Falta o ar como se o pescoço se apertasse numa angústia lenta.
O brilho morre-se na mão que se esfarela na porta.
O bater já quase não se ouve, não entro.
O espírito morre à míngua por um amor que não há.
E se o único alimento é esse que me falta,
E se morro numa fome que mata,
Como posso viver?
Faço pactos com a morte que não tarda.
Dou-lhe o braço, deito-me no seu regaço.
Faço pedidos e proponho trocas.
A única missão desejada é a que fica por cumprir.
O que importa?
Até o mais fiel desacatará um dia o prometido.
E não há nobreza maior que o perdão.
O começo é sempre o mais brindado e luminoso.
Agora, concedo-te fim o orgulho e a importância de seres a única lembrança.
Cumpre-se o desejo aflito num silêncio de serenidade.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Veneno

Escondes-te por entre paredes de lodo.
Reconstróis tímidas muralhas de lama.
Da mais fétida e frouxa espécie de tapume.
Não consta que a desonra se possa cobrir assim.
Mergulhas num colossal poço de infâmia.
Tropeças em poeiras que se levantam e turvam o horizonte.
Rodopiam em volta de ti em danças atraentes.
E cais, cais sempre…
Segues por cada esquina onde procuras o aconchego que não chega.
São abraços desesperados e fáceis que te procuram por lá.
É tudo tão comoventemente falso e trágico.
Não te sobra nada, há só um vazio calado.
Um preço demasiado alto para uma fraqueza sem controlo.
Já não te conheces e repudias toda esta desdita.
Mas há uma falta que grita e te inflama.
É agigantada, assustadoramente superior a ti.
Consome-te o corpo impecavelmente vestido de inércia.
Suplica-te que faças a vida correr nas veias.
E tu dás-lhe, entre cada espasmo impiedoso, o alimento envenenado.
A cada dia o lamaçal se torna maior e mais sujo.
A cada dia espreitas com indiferença o precipício da destruição.
Desejas que o fim inunde tudo definitivamente.
Que se te apresente breve como a vida que deixaste passar.
Queres que o êxtase vá subindo no seu modo calmo.
E que a paz te abrace pondo fim à miserável luta.
Esta revolta…

sábado, 16 de julho de 2011

Refém

É como se o meu corpo fosse um território em guerra.
É como se um fogo queimasse tudo.
Já não sei quem há segundos era.
A cada segundo me transformo e mudo.
Um calor que me consome e nada o detém.
Uma guerra em que não luto e sou apenas refém.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Revelação

Revelaste o que não se pode revelar.
As suspeitas são tão imaculadamente desgraçadas.
São funestas como balas, são perigosas para a alma.
E agora tudo ficou desenxabido à nossa volta.
Todo o sentir é uma coisa pouca, uma banalidade de rua.
Todo o calor tem um sabor a nada, a mácula.
Duvidar do amor é o que de mais profano se lhe pode fazer.
Porque uma dúvida não se revela assim.
Sabes, no gostar há um sentir sem previsões temporais.
Não há rituais, fórmulas mágicas nem prazos.
Gostar é ter a certeza de cada batimento, cada pulsar.
É certo para sempre.
E o para sempre é a cada segundo, é o já, o agora, o aqui.
Adivinhares até quando durará, é matares o sentir no momento.
E não é de momentos que se constrói a vida?
Amanhã ninguém sabe, é mistério.
Assim só, sem ponderações pegajosas e enganadoras.
O amor não se pensa, não se ensaia nem se planeia.
O amor mirra com o pensar e, com ele, melindra-se cruelmente.
Se duvidas, acredita meu amor, é porque não amas.
Amar é naturalmente declarado, é manifestação em si.
E essa é tão-só a mais simples das revelações.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Metade não chega...

Rasgo a vontade em pedaços sem fim.
Indecifráveis, pequenos e escrupulosamente orgulhosos.
Sento-me e espero que se esgote naquela garrafa que abraço.
Há quereres desbotados e disparatadamente melindrados.
De um sentir incauto e demasiado frágil.
Deixo que a chuva escorra por mim e inunde tudo.
Que se encharquem todas as palavras e gestos rotos.
Quero fechar os olhos e ver o momento esvair-se.
Soltam-se os risos altos num tumulto de demência.
Entrego-me a uma dança de gestos confusos e tortos.
Prenúncio de indiferença de uma dignidade forçada e azeda.
Sorte ridícula de uma coragem que chega tarde.
Agora não há já nenhuma pressa.
Há só uma vontade de recusar um amor mutilado.
Na certeza de que a vida não se basta a metade.
Respiro fundo e, entre longos tragos, vou bebendo.
Tem sabor de liberdade.
Recomponho o veludo esfarrapado de uns joelhos massacrados.
Se nos deram pés não foi para rastejarmos.
Ergo a cabeça e, com calma, sigo adiante em passos de paz.
Agrada-me que o dilúvio apague as pegadas que deixo para trás.
Porque o que ali fica não chega…

quinta-feira, 30 de junho de 2011

De nó em nó

Cala-se a dor num abraço que se parte, sem chegar a acabar.
As violetas murchas acabam-se ali, sem nenhum pasmo ou angústia.
Suspiro inquieto e carregado de pó, o que sobra de uma espera gasta.
Os passos estão pesados como um coração empedernido.
Não se aguenta nem mais um olhar torto, ainda que seja do mais sóbrio.
O corpo é agora silêncio, um lugar negligentemente despovoado.
Por uma alma cansada que se retira sem olhar para trás.
Finge-se sentir o sol, finge-se um querer a transbordar de alento.
Duvida-se da glória eterna, mas recomeça-se…
De ponte em ponte, em passos lentos e seguros de insensibilidade.
A morte tem o dom de nos esvaziar de sentidos e batimentos.
Já não há perigos para quem se torna impiedoso com as ameaças.
Subsiste a memória como, única, sombra corrosiva.
O fim que se aguarda e ninguém sabe, mesmo quem já o escreveu.
Devagar…
Assim de nó em nó, laço a laço se vive e se reinventa um novo destino.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Tenho vontade..

Tenho um sonho descorado.
Esfolado, roto, irremediavelmente desconcertado.
Tenho fome de lucidez.
Constante sem ser permanente.
Que sobrem momentos de alucinação e desvario.
Tenho urgência de desapego.
Que se desgarrem de mim as esperanças.
Que se calem essas vozes sábias e certeiras.
Ninguém pediu conselhos insossos.
Quero mandar as estrelas às favas.
E encomendar a morte da noite que não chega.
Tenho sede de escuro e de treva.
A luz é traiçoeira para quem se revela.
Quero ser impermeável aos mares de dor.
Atiro o coração pela janela e desejo que se parta.
Ou que os raios o partam que eu já não o suporto.
Não quero que volte, não quero que bata à porta.
Que vá encontrar o seu rumo e me deixe em paz.
Tenho desejo dessa pasmaceira que a tantos faz feliz.
Ou sei lá, cortar o destino aos pedaços.
E juntá-los conforme as minhas ganas.
Tenho vontade de lançar sortilégios à própria sorte.
Chego a temer ser-me uma lástima.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Conta-me um segredo!

Peço-te que me contes um segredo,
E tu falas-me de amor.
Desisto…
Como te posso dar ouvidos,
Se enclausuras o maior de todos os sentimentos.


Ah… calma!
É um engano por certo,
Falas-me de qualquer outra coisa.
Pois que do amor sei pouco,
Mas conheço a sua maior arte.
Sei que o amor…
Não se consegue ocultar ou dissimular.


Uns dizem que é ferida aberta,
Que dói e não se cura.
Alguns dizem que é uma força,
Que nos alimenta e nos segura.
Outros há que dizem coisas que
Não percebo ou não me desperta.


Vá, conta-me um segredo…
Não fales do amor,
Se o sentires é já bastante!
E deixa-me que te diga,
Amor,
Não sabes do que falas!

Sentir sem Saudade

Não importa o que fizemos com aquele dia.
Se tu mataste a eternidade com a falta de vontade.
Eu maltratei a calma com mágoas que não eram tuas.
Não importa que estejamos sujos e rotos como um trapo.
Em mim tudo foi vivo e isso é já tanto.
Tenho nas mãos todos os sentimentos que agarrei.
Deixei que as palavras se fossem com as contrições pesadas.
Ninguém precisa delas, que só cansam o sentir.
Deixei que escorressem por mim com todos os enganos e fraquezas.
Lavadas num mar de solenidade e paz.
Como uma chuva que purifica as almas desavindas.
De nada serve o orgulho fechado na gaveta da vingança.
Porque a desilusão é natural em quem sonha.
E nós sempre fomos selvagens com a imaginação.
Nada há para perdoar ou esquecer.
Não há nostalgias acesas.
Há somente desejos lassos guardados num tesouro antigo.
Sem nenhuma pressa, remexo as lembranças.
Rasga-se no rosto um largo sorriso.
Entro num tempo ido com a música perfeita.
Dançamos naquele jeito pausado e concertado, tão distinto e nosso.
Tu falas-me ao ouvido, eu faço "shiuu" como sempre.
É como se sentisse…
É como se estivéssemos lá, naquele momento que não volta.
O que importa que jamais pertençamos à mesma cena?
Assim me perco num momento em que se enlevam as memórias.
Sabe bem, sabe a vida e a verdade.
Sabe a sentir sem réstia de saudade.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Tormenta

Há uma duna de névoas e de memórias turvas.
Tantas tristezas sopra, agora, o vento.
E levantam-se todas as mágoas, no tempo enterradas.
Mancha-se o pensamento com nódoas antigas.
Perfilham-se os esconjurados arrepios antes desamparados.
A alma tinge-se de negro amargurado e arranhado.
Esfola-se a razão à força de ignorar, de esquecer.
Vêm fantasmas favorecidos por uma imaginação entusiasmada.
Mas há falta de coragem e há um intenso medo.
Uma febre violenta, um cansaço pouco audaz.
A consciência expressa-se num modo imperceptível ao corpo.
Infiel, demasiado infiel.
Nenhum calor, nenhuma ordem, só uma perturbação impiedosa.
Os olhos fecham-se numa emboscada a um sono esforçado.
E este silêncio que condena o delírio à sua merecida clausura.
Tudo se apaga enfim…

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Amor, a minha vaidade!

Ponho no papel o que o coração me põe na mente.
Indiscreto, talvez.
Imprudente, tanta vez.
Tenho uma alma que grita num corpo ansioso.
Ninguém disse que era pacífico.
Não há calma.
Por entre tormentas se elevam as emoções em mim.
Diminui-se cá dentro a razão em desencontros de lucidez.
Que só uma justiça vejo para os sentimentos.
Esta qualidade de me ser diáfana.
Não me pesam os desertos em que me fustigo.
Nem a aridez das derrotas de sentir demais.
São só poeiras.
Digo que me sujo nos lamaçais do desafecto.
Qual embaraço.
Se sinto não me amedronto.
Em manifesto me assumo e declaro que amo.
Se sinto não me escondo.
Não há disfarces para quem ama.
E o amor é o único escudo na vida.
O amor é um luxo ímpar.
Confesso, o amor é a minha vaidade.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Raquel...esta que sou!

Se eu não fosse eu, ninguém o seria por mim.
E a falta que eu faria!
Sendo outra Raquel ou qualquer uma, não seria esta.
E ainda que essa outra falta fizesse, não seria eu, seria ela.
Eu só me sei ser esta.
Só sou porque sou esta e mais nenhuma.
Coisa da natureza que me fez nascer.
Sorte minha, azar de tantos.
Rico previlégio o meu, tristeza de muitos.
Sou a Raquel…
Ah…!
Gosto de ser quem sou.
Agradeço-me por existir.
E gosto da falta que só eu faço ou poderei fazer!

...

Se eu não fosse eu, ninguém o seria!
E a falta que eu faria...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Mentira

Salto, rio e finjo que não sinto.
Louvo, brindo e bebo.
Poucos sabem que minto.
Pois não aparento nenhum medo.


Mas é macabro este cansaço.
Suspender a vida é um pecado.
Doença de quem espera o abraço.
No sufoco de um coração fechado.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Do amor...sei nada!

Do amor… sei pouco.
Mas não me interessam as teorias rotas de quem talvez nunca o sentiu.
Nem os mapas do seu resgate e as moedas de troca que me apresentam.
O único suborno que permito ao amor é ele próprio.
Contento-me em senti-lo em todos os momentos.
E juro que não percebo esses predadores, esses fracos.
Lançam redes e embusccadas... esses imbecis pestilentos!
O amor não se apanha assim, aliás nem assim nem de forma nenhuma.
O amor não se caça, não se encontra, não se vende nem se compra.
O amor vive-se e só se dá para quem ama, para quem sente e vive.
E parece-me que a única forma de viver é sentir somente.
É essa a fórmula que nos protege, nos conserva e nos aproxima.
Sei pouco ou quase nada do amor…
Sei que não deixa dúvidas nem se confunde.
Só quem não ama vê desordem nos sentimentos.
É isso que faz sofrer, é isso que dói em quem ama e não é amado.
E é por isso que, tantas vezes, um coração que sente é um coração que sofre.
Não sei muito do amor, sei bem mais da sua falta.
Sei que quando não existe, se encena, se falsifica e adultera, cedo se abate.
Porque não há simulações que sobrevivam para sempre.
O para sempre é muito exigente e só com amor se consegue.
Porque o amor é uma força única que cresce dentro de nós.
Porque o amor abraça as diferenças e percorre as distâncias.
O amor não se aprende, não se resume nem define.
Do amor não sei grande coisa…
Do amor sei que… amor é amor – isso basta!

sábado, 4 de junho de 2011

Arrepio

Ouço aquela música.
Arrepio-me porque não estás.
Esqueço-me do espaço onde me encontro.
Arrepio-me mais ainda quando te vejo chegar.
A pele eriça-se e os batimentos sentem-se por cima da roupa.
Dizem que aparecem borboletas, mas não acredito.
Até porque as prefiro a voar e não presas numa parte fechada de mim.
Prefiro acreditar numa luta entre a lucidez e a fantasia.
Um arrepio cresce e demora-se.
Gosto.
Não me causa nenhum rubor, não é da minha natureza.
Nem deixo espaço para pejo ou castidade.
Assumo todos os meus arrepios com vaidade.
São excepcionais, valiosos e não poderia castrá-los.
Mas se me falas, sorrio e não digo nada.
Silencio-me nos teus olhos onde vejo brilhar os meus.
Suponho que me ouves mesmo sem falar.
Cala-se o arrepio, finda o duelo interno.
A ilusão ganha-me.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Perdes-te...

Perdes-te na dúvida como quem se mata na curva.
E olha que a vida pode ser bem dura para quem se perde.
Pára com essas análises desgastantes e redutoras.
Já cansas a própria dúvida.
Não percas tempo nas perguntas.
Que há respostas que só o tempo e a idade podem trazer.
Não te afastes do que queres para saber o que não queres.
E se te fores, não venhas com palavras acetinadas.
Isso é pegajoso, é triste, é penoso.
Perdes-te um minuto e lá se vão horas e dias desejados.
Vão-se as eternidades prometidas, estilhaçadas no chão.
Não te busques na solidão.
O abandono é intriga para o coração.
Desapega-te do medo, esse mau amigo.
Há quem se assuste com muito amor.
Mas a falta dele é um terror maior.
Não te percas mais com pérfidas suspeitas.
Perdes-te mais, demoras-te mais.
E descobres a perpetuidade escondida num segundo.
Perdes-te…
E ainda acabam abatidos na curva.

Privilégio de te amar

Que privilégio é este de te amar.
Não há distinção maior do que me ver no teu olhar.
Ah, e aquele toque que me arrepia a alma.
É verdade que, para mim, o nosso amor é uma honra.
O que importa que não sejas perfeito se te amo?!
O amor não é magistral,o amor é tão só amor.
E é tanto… e é meu e teu, é nosso!
Tens a mágica de ver o mar no verde dos meus olhos.
E eu vejo o céu na tua boca e música nas tuas mãos.
Tens o dom de me amar.
E quem disse que amar-me é fácil?!
O amor possibilita o impossível, o impensável.
E eu desejei impossivelmente o impensável.
Desejei este fascínio de corpos favorecidos pelo encaixe das almas.
Ah, como te amo!
O amor é um perfeito e requintado caminho que me conduz a ti.
E àquele nós que poucos sabem.
Poucos saberão como se beija um coração.
Porque isso é mistério dos verdadeiramente amantes.
Amantes como nós.
Ah, como beijas o meu sentimento!
Que privilégio é este de sentir dois corações que batem em uníssono.
Juntos numa perfeita comunhão.
Juntos prometem ao mundo que cuidarão um do outro.
Não há maior privilégio do que poder cuidar de ti muito para lá da vida.
E saber que o fazes também na mesma sem-medida!
O amor basta as desavenças e o nosso é bastante!
O nosso amor é um regaço que nos acolhe, é um afágo valioso.
Ah, como somos ricos e abençoados.
A natureza concede privilégios somente a quem ousa amar.
E nós desafiamos a vida e desfiamos os sentimentos um a um.
Quero que todos saibam que o amor não são desfiles, é apenas um corajoso e emocionado grito.
Que todos oiçam que te amo.
Eu ouvirei sempre o teu grito porque me é puro.
Amamo-nos como ama o amor…
Ah…! E isso é um honrado e inexplicável privilégio!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Vamos falar...

Vamos falar de paixão.
Dizes-me arrebatamento.
Só?
É só isso?
Desconheço.
Não vi a essência.
Desejo mais…
Onde se compra?
Dizes-me que não se vende.
Digo-te que se encena.
Garanto-te…
Há boas composições teatrais,
E fantoches bem para lá do superlativo de bom.
Compro-te o ingresso?
Ah, já tens…
Agora calo-me sem espanto!

Sei lá,não sei...

Se me sinto sozinha no meio de uma multidão.
Se me sinto sozinha não estando fisicamente abandonada.
Se me sinto sozinha quando tenho verdadeiros amigos.
Se me sinto abandonada no lugar em que me obrigo a estar.
Se me sinto abandonada quando renuncio a sentimentos de reunião.
Se me retiro mesmo sabendo que há amor para receber.
Se me afundo no meio de pressentimentos absurdos e pesados.
Só posso ser uma exagerada patética.
Só posso ser uma comovente exaltada.
Não busco piedades, aflições ou qualquer tipo de complacência.
Mereço estar só.
Quero o silêncio, a paz, o desterro.
Quero estar só.
Se me sinto só não estando.
Se me sinto não ser ao ser quem sou.
Sou eu… o meu único desprezo.
Perdida nas minhas multidões sentimentais.
Retiro-me e percebo que não preciso de ninguém para estar sozinha.
Percebo que afinal me julguei acompanhada, quando não podia estar mais desalinhada.
Deve ser febre ou uma alucinação do espírito.
Passei para a outra margem, talvez.
Sento-me com uma solidão pacificadora e espero…
Espero que passe a confusão e toda esta exaltação ridícula.
Sinto-me insignificantemente mesquinha.
Passo por mim e não me vejo.
Serena, espero o meu regresso.
Assim, lentamente vejo-me de novo…
E preparo-me para sentir tudo de novo.