segunda-feira, 17 de junho de 2013

Imprudência

Cometo sempre a imprudência de acreditar.
De me fazer ao caminho quando todos me dizem que não é por ali.
A inocência de pensar que quem dá a sua palavra tem honra.
E que vale mais a morte do que ser verme maleável.
Uma jura não devia ser uma treta.
A necessidade de acreditar que uma palavra não é só uma palavra.
Que dizer a verdade é tudo o que importa.
Incauta esta busca pela clareza.
Em que o preto no branco vale mais do que qualquer manobra ou habilidade.
Esqueço-me que o mundo é para os ardilosos, hábeis na encenação.
Esqueço-me que no fim ninguém quer saber do que disse.
Tropeço sempre no egoísmo parvo que se enfurece e me derruba.
As máscaras não deixam ler o que diz a pele.
E são bonitas e vestem personagens magníficas.
Discursos dignos de prémio, posturas que transpiram rectidão.
Mas que vão beber ali, ao mar da aparência, gotas de traição.
E o pano cai, o ego inflama-se e a fractura exposta deixa ver o sujo que há por dentro.
O lixo abunda… e dignidade? Nenhuma.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Mulheres e Príncipes - A Raiz do Problema

Há uma grande diferença entre homens e mulheres, muito mais do que uma questão de género, é uma questão de estilo de vida, de opções, de gostos, de escolhas e de visão acerca das próprias relações.


A preocupação em ficar "solteirona" ou "ficar para tia" é uma constante nas conversas entre amigas, começa na adolescência e agudiza-se quando os trinta anos se aproximam, quando família e amigos parecem ter-se unido e fazem lembrar o peso da idade, dizem que "está na hora". E o pior é que isto mói, ou pelo menos mói durante algum tempo até se ganhar resistência. Muitas mulheres chegam a desesperar e a desabafar coisas do estilo: "Estou velha. Não vou arranjar ninguém.".

E neste processo desesperante já nem interessa nada a não ser ter, efectivamente, alguém. Nem precisa de haver paixão porque, dizem os sabedores, isso vai acabar e vai, e o que importa mesmo é a amizade que fica, o companheirismo - não me lixem, por favor! Ah, e a paixão (acredita-se a partir dos vinte e tal - a idade aqui varia consoante o momento em que o desespero bate à porta, umas vezes mais cedo, outras mais tarde) é secundária e, pasmem, até se pode construir. Compatibilidade intelectual?! Deixa lá isso, o importante é teres alguém a quem dizer boa noite e bom dia.

Já para os homens não é nada disto e estar solteiro até dá jeito. Pensam em casar, ter filhos e tal, mas dizem eles: "quando tiver que ser será, sem pressa.".

De facto, muitas mulheres procuram a todo o custo um parceiro para a vida, inventam pontes que não existem senão nas suas cabeças, arranjam desculpas para não terem que ver o que está ali mesmo diante dos seus olhos e já toda a gente viu, tentam descortinar mensagens implícitas em discursos bastante claros do género: "Gosto de ti e quero que sejas feliz, mas talvez eu não seja o homem certo para ti."; ou "Acho que nós não somos muito mais do que bons amigos.". Frases tão claras como água que chegam a valer semanas, senão meses, de autênticos enredos dignos das melhores novelas mexicanas.

As mulheres são mesmo capazes de ir aos pormenores para encontrar pontos em comum com alguém que, vistas bem as coisas, não partilha com elas muito mais do que o mesmo gosto por um iogurte, uma música ou um filme. E vão, a cada nova relação, construindo pontes tão frágeis que se desmoronam no primeiro abanão. Abanão que as faz ver que, afinal, nunca acharam piada nenhuma aos calções de banho dele e que, na verdade, ele não era nada culto, tinha era a mania de mandar umas bocas sobre os assuntos porque não dominava mais do que a tabela de jogos da temporada.

A respeito de conselhos, os conselhos das mulheres, às vezes, são aterradores do ponto de vista racional. E, quando vistos de fora, fazem-nos sentir altamente patéticas, parece que somos mergulhadas numa palermice momentânea. Valha-nos o facto de, na maior parte das vezes, não precisarmos que ninguém nos alerte, porque vamos tomando consciência do estado de desequilíbrio em que estamos.

Já os homens dão conselhos verdadeiramente sábios, do tipo: "Eh pá, sempre te disse que ela era uma seca, sempre a falar de casar e ter filhos, ainda bem que te safaste a tempo. Não faltam mulheres e vamos mas é beber uns copos". Não acham sábio? Eu acho de uma sabedoria tremenda, muito melhor do que conselhos que só nos encorajam a rastejar que nem bebés.

Tão fracotas as mulheres, dizem os homens, acabam uma relação e parece que vai acabar o mundo. E as relações acabam e há choro, ranger de dentes mas o mundo continua lá igual, eles continuam lá iguais, impecáveis, sem rugas de chorar, sem olheiras pelas noites de insónia.

Claro que também há homens assim e, da mesma forma, há mulheres diferentes deste padrão. Mas é recorrente ouvir-se que as mulheres são assim, este "bicho" estranho, complicadas que só elas, com detalhes altamente misteriosos e indecifráveis.

A verdade é que, independentemente do grau de desespero, toda a gente procura alguém, seja homem ou mulher, todos precisam de alguém. É algo da natureza do ser humano, é intrínseca ao ser e nasce connosco esta vontade de ter alguém, de partilhar afectos e muito mais.

Os homens não são menos complicados do que as mulheres, poderão ser, talvez, mais racionais em alguns aspectos. Talvez, as mulheres sejam mais de criar padrões, de elevar expectativas, de procurar a perfeição vinda à terra em forma de homem. Talvez as mulheres sejam mais criativas nessa tendência de distorção da realidade. Talvez sejam mais sonhadoras, sei lá.

E quando me ponho a pensar na razão que leva a tudo isto, chego à conclusão que o problema está (é que só pode mesmo estar aí) na Disney. Na Disney, no seu rol infindável de contos de fadas, no "Era uma vez...casaram e foram felizes para sempre.", nas princesas passivas que sem mexer uma palha encontram um príncipe, nas princesas aventureiras que desafiam tudo e todos e encontram um príncipe, nas boas meninas que beijam um sapo e ele torna-se príncipe… Príncipe encantado, príncipe, príncipe… sempre o príncipe. Mas afinal, quem é o príncipe, que espécime sobrenatural é esse que todas procuram?

As meninas, muito mais do que os meninos, adoram as historiazinhas de final feliz que as põem a ver desde cedo - pais que me ouvem, não deixem as vossas meninas verem esses filmes bonitos até terem a capacidade de perceber que os príncipes não existem! E esse é o problema, é o motivo do flagelo em que muitas mulheres vivem, atrás de uma figura que não existe e à espera que a sua vida pareça retirada de um desses contos.

Vejamos a história da Branca de Neve, uma princesa cheia de obstáculos e privações, boa rapariga e que é acordada para a vida por um príncipe montado num cavalo branco (note-se que o homem nem nome tem), casam e são felizes para sempre. A Cinderela coitadinha que vem lá dos confins da cozinha suja e escura directamente para o palácio; graças, claro, ao seu príncipe encantado (este também não tem nome e, ainda por cima, é encantado) com quem casa e é feliz para sempre. A Aurora ou Bela Adormecida que ia dormir eternamente (não fosse o príncipe Filipe acordá-la com um beijo) mas acabou apaixonada, casada e feliz para sempre com o seu príncipe. A Sereia Ariel que, desafiando as ordens do pai, vem à superfície (a miúda arriscou meter-se em alhada da feia) onde encontra o seu príncipe Eric (que não era príncipe até se casar com ela) com quem vive feliz para sempre no fundo do mar.

Ora, o que é que se encontra de comum nestas histórias? O príncipe (que nem precisa de ter nome, basta ser príncipe, ter atitude de príncipe) salva-as e apaixona-se. E as meninas crescem à espera disto, de serem mulheres e de aparecer um homem sem estarem à espera (a típica frase do "quando menos esperares") que as acorda para a vida. E dizem os homens: "Oh pá, acorda para a vida mulher, os príncipes não existem e se achas que o marido da tua amiga é um, olha fica com ele!".

Depois temos o caso da Bela que casa e é feliz para sempre com o príncipe Adam que, coitadinho, tinha sido transformado em monstro por causa das suas atitudes más e feias, mas que descobriu a bondade com ela.

E pronto, o caldo entorna-se outra vez… Vem daqui a tendência (frustrada) das mulheres pensarem que o vão mudar, torná-lo bom, melhorá-lo, fazê-lo ver o quão bela a vida pode ser ao seu lado - Hello! Monstros são sempre monstros, ninguém os muda e tu não vais mudar o teu, desiste!

Seguem-se a Jasmine e a Rapunzel, ambas apaixonam-se, casam e são felizes para sempre com Aladino e Flynn Rider respectivamente. Que até serem príncipes não passavam de ladrões de rua com charme mas, que no fundo, eram uns bons rapazes.

Digam lá se nunca ouviram: "Ah e tal, as mulheres só gostam dos maus, dos "badboys", os bons não querem elas, acham-nos sempre uns mansos.". Pois, se calhar a culpa é da Jasmine e da Rapunzel que nos fizeram acreditar que por detrás de um menino mau está sempre um bom rapaz, de coração puro e que, por nós, é capaz de deixar de fazer coisas más e blá-blá-blá. Ou, se calhar, temos no nosso íntimo uma vontade louca de transgredir a lei, de roubar uma pastilha no supermercado, sei lá. Embora hoje em dia, me pareça que essa ideia das mulheres gostarem dos maus e a cheirar a cavalo, não é verdade. E miúdas deste mundo, se vocês se meterem com um ladraozinho de beira de esquina, é bem provável, por exemplo que acabem num bairro qualquer a vender droga ou a irem ali à cadeia mais próxima pedir visitas conjugais - prestem bem atenção!

Temos depois a Tiana do filme "A Princesa e o Sapo", um caso isolado no que toca ao seu príncipe Naveen que é o único que é literalmente descrito como, aquilo a que chamamos hoje, o "playboy" e boémio (ah, e sapo!). Ele é um mulherengo inveterado, sempre atrás de todas as miúdas giras (e de preferência ricas) mas que se apaixona por uma miúda lutadora, trabalhadora, humilde, que sabe cozinhar bem, com quem casa e é feliz para sempre.

Cá está ela, a célebre história do sapo que vira príncipe. Quem nunca ouviu algo do género "Até encontrares o teu príncipe, tens que beijar muitos sapos", que se acuse! Ele é mulherengo, boémio que só ele, o verdadeiro sapo? Não faz mal, espera sentadinha que, num belo dia, ele há-de tornar-se o homem mais maravilhoso de sempre, que só vai ter olhos para ti e fazer-te a mulher mais feliz do mundo. E é isto, a Disney a incutir esperanças nulas. Porque, minhas queridas, eles não se transformam, sapo é sapo e se o beijam, vocês é que ainda acabam num charco qualquer.

Se formos mais longe, podemos juntar a estes príncipes, os heróis. Pois que também os há nestes contos. Não são bem príncipes, na medida em que cativam mais pelos actos de bravura. E aqui entra, por exemplo, o Hércules.

De facto, não podia deixar de fora a acusação recorrente de que as mulheres só gostam de tipos musculados, fortes e robustos. O que não é verdade e facilmente se rebate com o contra-argumento de que os homens também só gostam de mulheres de curvas, também conhecidas entre eles por "gajas boas".

Porém, desenganem-se as almas deste mundo que pensam que só as mulheres são afectadas pelas histórias da Disney. Os homens também são, mas de outra forma que acaba por afectar, mais uma vez, as mulheres. Aqui não são elas que se põem no problema, são eles que as põem.

Estou a falar, como é óbvio, do nosso querido Peter Pan e da sua Terra do Nunca, a personagem que não cresce, é criança para sempre, vive no seu mundo à parte onde nem toda a gente tem capacidade de entrar e para onde tenta levar os outros.

Efectivamente, não podia deixar passar sem breve alusão, a síndrome de que muitos homens padecem comummente apelidada de síndrome de Peter-Pan.

E quem são estes Peter Pan das nossas vidas, quem são? Pois é, são aqueles homens que nunca crescem ou que não querem crescer, não querem abandonar o seu mundo de fantasia e serem homens à séria, adultos com responsabilidades. Aqueles que as mulheres dizem não ter maturidade emocional, mas em relação aos quais as amigas dizem (conselho sábio, este): "Tens que ter calma, ele vai crescer um dia, sabes que nós mulheres crescemos mais rápido mas acredita, ele vai lá chegar" - Tretas, tudo tretas! É que não há paciência para estes homens que, não o são de verdade mas também, já não são crianças. São o Peter Pan que nos aparece de quando em vez e que, quase nos arrasta para a infantilidade dele (valha-nos o bom senso!), que nos tira do sério e nos faz entrar, tantas vezes, em jogos ridículos para os quais nenhuma mulher tem já paciência.

Por tudo isto, pode-se concluir que se não fossem estas histórias encantadas em que são todos felizes para sempre, estes príncipes que, para além de bem apessoados (todos eles de estatura média, músculos trabalhados), são gentis, apaixonados e valentes; se não fossem estas princesas que depois de martírios, sofrimentos, obstáculos e lutas, encontram príncipes e são felizes para sempre; se não fossem estas histórias autênticos relatos de vidas, aparentemente infelizes, que como por magia se tornam nos mais belos romances (de ir às lágrimas mesmo); as mulheres não cresciam a acreditar que também vai ser assim com elas.

A verdade é que, e podem tirar o vossa cavalinho da chuva, se arriscarem meterem-se em sarilhos por causa de um suposto príncipe, o mais provável é que tenham mesmo confusão da grossa (a Ariel é uma excepção). Se entrarem num sono profundo é bom que tenham um despertador à mão porque não vão ser acordadas por um príncipe, com um daqueles beijos dramáticos (a Branca de Neve e a Bela Adormecida são uma excepção) ou, até, serão aconselhadas a consultar um psiquiatra por suspeitas de depressão profunda. Nem pensem que se perderem um sapatinho à saída festa, andará alguém à vossa procura, até porque se o sapato for de marca (ou de cristal) é certo que alguém vai ficar com ele ou então irá parar ao contentor de lixo mais próximo (a Cinderela foi uma excepção).

Estas "lavagens" cerebrais que as miúdas levam desde a altura das fraldas são, e não tenho dúvidas, um enorme contributo para que na sua vida adulta estejam à espera de um príncipe qualquer. Aliás, se ainda não houvesse carros, diria mesmo que o esperariam, hoje, no tal cavalo branco e quiçá de espada empunhada. - Fim!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

#a reter

O Amor não é um hábito e se for, então não é Amor!