sexta-feira, 6 de abril de 2018

Aos 32...

Vivi plena e dolorosamente a maior dicotomia da existência que nos divide entre a vida e a morte.
Perdi uma das pessoas mais importantes da minha vida, perdi o meu irmão e senti a dor mais imensa e profunda.
Descobri que é possível sentir dor ao ponto de, infelizmente, querer abandonar esta vida.
Perdi uma das melhores amigas, perdi-a também para essa maldita peste do século e ainda hoje lamento não lhe ter dito que me ia fazer falta.
Perdi a minha avó, a minha última avó, e com ela parte da minha história e as tardes sentadas ao sol, no banco de pedra, a falar do tempo e das flores.
Fui tia do bebé mais cheiroso e simpático, esse meu grande amor, o meu Zé Maria, o chulecas da tia.
Descobri que vou ser mãe, e embora nem saiba se será uma menina ou um menino, tenho a certeza de que vou sentir o maior amor da minha vida inteirinha - maninha, o teu amor está noutra esfera e é incomparável.
Chorei muito, chorei sozinha, chorei em público, chorei em silêncio… chorei como nunca, ainda choro.
Percebi que a morte nos mutila ao ponto de deixarmos de nos comover com outras dores.
Dancei muito mas menos do que gostaria, dancei como se isso me fizesse esquecer das minhas dores.
Bebi pouco mas embebedei-me algumas vezes e – shame on me – foi de propósito.
Conheci estranhos, abracei estanhos, beijei estranhos, encatei-me com estranhos.
Aproximei-me de algumas pessoas e não me afastei de nenhuma das que amo.
Encontrei pessoas novas, interessantes e especiais – guardei algumas, diria que poucas mas guardei as que acrescentam.
Desiludi-me com pessoas inesperadas, mas dizem que a felicidade passa por termos poucas expectativas, por isso, a culpa foi minha.
Desejei parar o tempo, desejei desaparecer, desejei ter o poder de mudar as peças deste puzzle que é a vida.
Ri, tentei rir, ri muito e disse disparates e patetices para me convencer de que ainda consigo fazê-lo.
Dormi pouquíssimo e tive insónias.
Fui operada e pedi para me prolongarem a anestesia - ninguém da equipa acedeu!
Tive medo, tive medo quase todos os dias e falei sozinha para me auto convencer de que sou capaz.
Mudei para sempre e nem sei se alguma vez conseguirei voltar a ser quem fui, como se me tivesse tornado uma pessoa com menos brilho.
Viajei mais no pensamento do que na vida.
Passeei sozinha no meio de estranhos e cidades estrangeiras.
Senti que ainda há pessoas queridas e simpáticas, mesmo que sejamos perfeitos desconhecidos para elas.
Abracei muito, dei abraços apertados e infinitos e recebi outros tantos e muito carinho dos meus e de pessoas que nunca vi.
Revoltei-me.
Aprendi que nada acontece por acaso e sigo e persigo esta ideia.
Desvalorizei, desacelerei, acalmei.
Fui mais calada, mais séria e menos exigente.
Quase não escrevi – por falta de tempo mas, sobretudo, por falta de vontade.
Fiz e desfiz planos e, apercebi-me que o melhor é nem planear e deixar-me levar.
Voltei a confirmar que tenho uma família especial, e que nem em sonhos poderia desejar uma melhor.
Voltei a confirmar que os meus amigos são um pilar e um amor que estará sempre comigo independentemente das tragédias.
E a vida não chegará para os amar como deve ser.
Fui irresponsável umas quantas vezes mas só me pus em causa a mim.
Não comi muito chocolate, e apesar de ter comido bastante - sobretudo alheiras - fui mais saudável.
Fui menos fútil e muito menos preconceituosa – diria que me superei e me tornei melhor.
Dei mergulhos no mar, muitos e demorados, daqueles que nos devolvem a paz – sim, e dores nos ossos.
Dediquei-me inteiramente a algumas pessoas, e abdiquei de materialismos em prol de momentos de partilha, de amor e de amizade.
Rezei muito.
Venci a fobia ao telefone em 90%.
Compreendi que depois da morte conseguimos, de diversas formas, fazermo-nos presentes aqui deste lado.
Será injusto, por todas as coisas boas que me aconteceram, dizer que foi um ano triste. Mas a verdade é que foi, apesar das maravilhas que a vida me deu, o ano mais triste que alguma vez vivi.
Aprendi e senti em todos os recantos de mim que o melhor da vida é amar, amar sem barreiras, sem meios-termos, sem meias palavras, amar simplesmente... Porque, apesar de não curar tudo, afinal, é sempre o amor que nos salva!