sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Para o meu Zé Maria

29-08-2018

Querido Zé Maria, amor da tia,
Já passou um ano desde que te vi pela primeira vez, parece que foi ontem que te peguei ao colo e te cheirei.
No dia em que soube que seria tua tia, fiquei histérica e assoberbada, e desde esse dia soube que te amaria para sempre.
Todos os dias tenho saudades tuas e penso em ti, penso nesses teus olhos cor de azeitona e do tamanho da lua – e sim, não me bastam as incontáveis fotografias que trago sempre comigo. 
Aliás, contigo inaugurei esses clichés todos de quem tem bebés…fotografias sem fim, conversas longas sobre fraldas, sopas e tudo e mais alguma coisa – dou por mim a mostrar orgulhosamente os teus vídeos com as pequenas conquistas que vais alcançando. 
Sempre que estendes os braços para mim, o meu coração enche-se de amor e quando encostas a tua cabeça a mim…bem, é como se não existisse nada que nos possa derrubar, fazes-me sentir especial e deves ser a única pessoa neste mundo que vi chorar pela minha ausência.
E quando dás miminhos à Bolotinha e dás beijinhos na barriga da tia?! Céus, sinto o amor mais profundo.
Há um mundo sem fim que te quero mostrar – e tantas, tantas coisas que te quero ensinar.
Quero que acredites sempre que o melhor património que podes ter são as pessoas, o amor e as viagens (as verdadeiras e as emocionais).
Andamos todos encantados contigo e os teus avós e tios só falam de ti, às vezes apertamos-te tanto que te deves fartar e nunca, mas nunca nos cansamos dos teus abraços e beijos – ficas a saber que há lutas para te dar colo!
Como é bom ver-te crescer, como é bom conhecer os recantos da tua alma e desvendar a tua personalidade – acho que nos vais dar “àgua pela barba".
Encanto-me com as tuas gargalhadas e quando fecho os olhos sinto o teu cheirinho.
O Tio Pedro recebeu-te no colo e disse que o melhor que a vida lhe deu naquele último ano foi a oportunidade de te conhecer. Vou falar-te dele sempre que puder e ele olhará por ti do outro lado da margem – nunca duvides.
Às vezes danço contigo e quando dançamos a “lover lover lover", tenho a certeza de que estamos os três.
Acredita que, embora não cure tudo, é sempre o Amor que nos salva e tu salva-nos todos os dias um bocadinho mais.
Desejo profundamente que sejas sempre feliz e de tudo farei para que, independentemente dos caminhos que escolheres, nunca te falte amor – o meu colo terás sempre que precisares e mesmo quando não precisares.
Lembra-te, quanto mais deres, mais receberás e se algum dia a vida te fizer duvidar, não esqueças que às vezes só precisamos de dar um pouco de amor – nunca desistas disso!
Um grande beijo de Parabéns da tia que te ama para sempre.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Para A Minha Filha

Querida Carlota,
Antes de mais, quero dizer-te que se só existíssemos as duas neste mundo, serias Guadalupe.
Sabes, a nossa relação começou de forma inesperada e confusa. Mas cedo perceberás que te saiu uma mãe perita em começos confusos e finais pacíficos. Mas nunca te esqueças que, independentemente de tudo, escolhi amar-te e isso é o que importa. Ah, e estou há meses sem beber um whisky – é bom que te lembres disso de vez em quando.
E pateta - saiu-te uma mãe pateta, que chora a ver filmes e a ouvir música e que, por vezes, também tem medo.
Confesso que quando digo "a minha filha" não me parece verdade.
Ainda não nos conhecemos bem mas um dia já não é dia se não te sentir - é quase como os brócolos. E desculpa por te perturbar com tantos toques mas, às vezes, ficas tão quietinha que eu começo a pensar se estarás chateada por te dar brócolos todos os dias, se estarás farta da mesma música, ou se será por te chamar “bolotinha da mãe “. E enche-me o coração que me respondas com um daqueles chutos valentes que me leva o estômago até à garganta.
Pergunto -me se herdarás os meus olhos ou os meus caracóis, ou a genética do teu pai - em qualquer caso sei que terás olhos curiosos e serás, com toda a certeza, uma fofa.
Tenho a certeza de que nos vamos divertir muito juntas e não vejo a hora de dançar contigo. Vou ensinar-te a voar e a sonhar - lembra-te que os sonhos, sobretudo os que temos acordados, porque são fruto da nossa criatividade, são meio caminho andado para a concretização.
Vou ler-te poesia e vou gostar muito se te encantares com a escrita. Mas ficas a saber que vais partir o coração da tua pobre mãe de cada vez que repetires o mesmo erro de português duas vezes.
Vou ensinar-te que na vida o mais importante é o perdão, a verdade e o amor e que os deves perseguir independentemente de qualquer coisa, e nunca, mas nunca te convenças do contrário.
Vou deixar-te cair e esfarrapar os joelhos mas estarei cá para te dar colo (e o colo de uma mãe, acredita, cura tudo) e defender – e olha que no que toca a defesa sou um tanto leoa.
Vais ter uma família, de sangue e de coração, tão maravilhosa (e às vezes um bocadinho barulhenta) que te vai amar e dar abraços intermináveis – estão já de braços abertos para te receber. Um sem fim de tios e tias com tanto para te dar e montes de histórias – mas não acredites em tudo o que te contarem sobre mim, são uns exagerados. Os avós melhores do mundo - serão teus!
Vais ouvir falar muito de algumas pessoas que cuidarão de ti do outro lado da margem e que, infelizmente, só conhecerás pelas recordações e histórias que te serão passadas – o Tio Pedro iria dizer que és a miúda mais bonita do mundo e iria inventar um nome carinhoso para ti.
Espero que, como todos os filhos que se prezam, aprendas a dar-me a volta mas não penses que vou embarcar em tudo.
Deste lado as coisas nem sempre são fáceis, e isso é o que torna tudo tão especial. Mas se fores sempre gentil e altruísta, vais perceber que isso facilita muito.
Vai haver dias em que vou desejar engolir-te (vais ter que ter paciência) para voltares para dentro de mim, mas prometo que terei, quando for preciso, a coragem de te deixar fazer o teu caminho.
Estou à tua espera para te ver chegar com a mesma luz e força com que as estrelas rasgam o céu à noite e ansiosa por te apertar contra o peito.
Um beijo.

29-05-2018

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Aos 32...

Vivi plena e dolorosamente a maior dicotomia da existência que nos divide entre a vida e a morte.
Perdi uma das pessoas mais importantes da minha vida, perdi o meu irmão e senti a dor mais imensa e profunda.
Descobri que é possível sentir dor ao ponto de, infelizmente, querer abandonar esta vida.
Perdi uma das melhores amigas, perdi-a também para essa maldita peste do século e ainda hoje lamento não lhe ter dito que me ia fazer falta.
Perdi a minha avó, a minha última avó, e com ela parte da minha história e as tardes sentadas ao sol, no banco de pedra, a falar do tempo e das flores.
Fui tia do bebé mais cheiroso e simpático, esse meu grande amor, o meu Zé Maria, o chulecas da tia.
Descobri que vou ser mãe, e embora nem saiba se será uma menina ou um menino, tenho a certeza de que vou sentir o maior amor da minha vida inteirinha - maninha, o teu amor está noutra esfera e é incomparável.
Chorei muito, chorei sozinha, chorei em público, chorei em silêncio… chorei como nunca, ainda choro.
Percebi que a morte nos mutila ao ponto de deixarmos de nos comover com outras dores.
Dancei muito mas menos do que gostaria, dancei como se isso me fizesse esquecer das minhas dores.
Bebi pouco mas embebedei-me algumas vezes e – shame on me – foi de propósito.
Conheci estranhos, abracei estanhos, beijei estranhos, encatei-me com estranhos.
Aproximei-me de algumas pessoas e não me afastei de nenhuma das que amo.
Encontrei pessoas novas, interessantes e especiais – guardei algumas, diria que poucas mas guardei as que acrescentam.
Desiludi-me com pessoas inesperadas, mas dizem que a felicidade passa por termos poucas expectativas, por isso, a culpa foi minha.
Desejei parar o tempo, desejei desaparecer, desejei ter o poder de mudar as peças deste puzzle que é a vida.
Ri, tentei rir, ri muito e disse disparates e patetices para me convencer de que ainda consigo fazê-lo.
Dormi pouquíssimo e tive insónias.
Fui operada e pedi para me prolongarem a anestesia - ninguém da equipa acedeu!
Tive medo, tive medo quase todos os dias e falei sozinha para me auto convencer de que sou capaz.
Mudei para sempre e nem sei se alguma vez conseguirei voltar a ser quem fui, como se me tivesse tornado uma pessoa com menos brilho.
Viajei mais no pensamento do que na vida.
Passeei sozinha no meio de estranhos e cidades estrangeiras.
Senti que ainda há pessoas queridas e simpáticas, mesmo que sejamos perfeitos desconhecidos para elas.
Abracei muito, dei abraços apertados e infinitos e recebi outros tantos e muito carinho dos meus e de pessoas que nunca vi.
Revoltei-me.
Aprendi que nada acontece por acaso e sigo e persigo esta ideia.
Desvalorizei, desacelerei, acalmei.
Fui mais calada, mais séria e menos exigente.
Quase não escrevi – por falta de tempo mas, sobretudo, por falta de vontade.
Fiz e desfiz planos e, apercebi-me que o melhor é nem planear e deixar-me levar.
Voltei a confirmar que tenho uma família especial, e que nem em sonhos poderia desejar uma melhor.
Voltei a confirmar que os meus amigos são um pilar e um amor que estará sempre comigo independentemente das tragédias.
E a vida não chegará para os amar como deve ser.
Fui irresponsável umas quantas vezes mas só me pus em causa a mim.
Não comi muito chocolate, e apesar de ter comido bastante - sobretudo alheiras - fui mais saudável.
Fui menos fútil e muito menos preconceituosa – diria que me superei e me tornei melhor.
Dei mergulhos no mar, muitos e demorados, daqueles que nos devolvem a paz – sim, e dores nos ossos.
Dediquei-me inteiramente a algumas pessoas, e abdiquei de materialismos em prol de momentos de partilha, de amor e de amizade.
Rezei muito.
Venci a fobia ao telefone em 90%.
Compreendi que depois da morte conseguimos, de diversas formas, fazermo-nos presentes aqui deste lado.
Será injusto, por todas as coisas boas que me aconteceram, dizer que foi um ano triste. Mas a verdade é que foi, apesar das maravilhas que a vida me deu, o ano mais triste que alguma vez vivi.
Aprendi e senti em todos os recantos de mim que o melhor da vida é amar, amar sem barreiras, sem meios-termos, sem meias palavras, amar simplesmente... Porque, apesar de não curar tudo, afinal, é sempre o amor que nos salva!