sábado, 15 de outubro de 2011

Eu Peço

Eu peço que se apaguem as luzes.
Que se tinjam as lágrimas.
Eu peço às flores explicações.
Complicadas e nunca achadas.
Eu peço ao lume que se alague.
Ou se murche dentro do peito.
Baú que se torce e entorpece.
Eu peço ao vento que afaste o véu.
A débil raia que me turva a vista.
É azeda esta lonjura que me habita.
Eu peço ao mar que me queime a pele.
Que nada toca ou nela perdura.
É insano todo o meu pensar.
Que tudo pensa e nada o satisfaz.
São pedidos irreais e excessivos.
Como demasiada sou toda eu.
Eu peço para calar a voz da minha pressa.
A vida ama-se devagar.
Eu peço calma nesta hora de te abraçar.

Tu Não Sabias

Tu não sabias da minha procura.
Da ânsia desmedida que enfurece o jardim.
Não sabias que te procuro sempre.
Mesmo quando já luz nenhuma alumia o caminho.
Eu sei que não sabias.
Tu não sabias da minha busca interna.
Incessante como as ondas de um mar revolto.
Bem sei que não sabias.
Eu sabia que desconheces os meus segredos.
Nunca soubeste desvendar os mistérios dos meus lugares.
Ermos, fatídicos como todo o meu jeito de amar.
Tu não sabias dos meus tropeços e arranhões.
Que arranhada sempre esteve a minha alma.
Fraca, encoberta num céu de saudade.
Tu não sabias, tu não conheces.
Eu sei que não sabias.
Se soubesses jamais terias partido.
Agora é escuro e não sei de luz nenhuma.

Medo

E sem querer eu era medo.
Um medo absurdo, um medo com culpa.
Não era capaz.
Continuar por entre sentimentos despovoados.
Não era mesmo capaz.
E sem querer eu mentia.
Escondia as aflições em sorrisos de paz.
E nos olhos que aprenderam a calar.
E sem querer desejava acabar.
O fim pareceu-me sempre menos doloroso.
Como se fosse só ali desligar a luz.
Mas eu tinha medo, sempre tive medo.
Não queria desvendar mais segredos.
Os passos falhavam tantas vezes.
Recuava e recusava com medo.
Não podia magoar-me mais.
Não podia corromper mais esperanças.
Não podia acreditar em mais teorias alheias.
Fingir sonhos e vontades.
O único desejo era partir, acabar com o mistério.
Ah… e o medo, esse imbecil.
E sem querer fugia da realidade.
Desta vida hipócrita de verdades montadas e vaidosas.
E então a saudade assaltava a alma, o corpo e tudo em redor.
E eu tinha medo de não conseguir matá-la nunca mais.
E sem querer ficava, ficava sempre.
E o medo ficava comigo também, sempre comigo.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Faz de Conta

Gestos destemidamente encenados.
Batimentos apartados do espírito.
E são quase perfeitos, quase quentes.
Falsos beijos, falsos abraços, falsos olhares.
Palavras fingidas como poesias e contos de encantar.
Denunciadas por tempestades de indiferença.
Nada se sente, nada toca ou mexe cá dentro.
Mas faz de conta...
Faz de conta que o amor é um cálculo preciso,
Faz de conta que o coração se pode remendar,
Faz de conta que não há máscara.
E a vida continua este teatro triste,
Que me convence de vez em quando a duvidar.
Esta pobreza de esconder verdades que não acaba.
Fingir que existe ou existiu alguma vez,
É muito pior do que nada ter de verdade!