terça-feira, 12 de novembro de 2013

Pessoas Como Nós

Pessoas como nós olham nos olhos.
Pessoas como nós asfixiam a tristeza com abraços.
Pessoas como nós apertam os laços com nós cegos.
Pessoas como nós lambem lágrimas para estancar a dor nos outros.
Pessoas como nós amam almas e aceitam corpos.
E nunca o contrário!
Pessoas como nós só mantêm distâncias discretas.
Pessoas como nós sonham com a mesma velocidade com que as estrelas rasgam o céu.
Pessoas como nós destroem trilhos para fazerem o caminho.
Pessoas como nós guardam saudades.
Pessoas como nós nunca partem porque levam o coração cheio.
Voltam sempre!
Pessoas como nós vestem-se de emoções.
Pessoas como nós embebedam-se de ilusão.
Pessoas como nós rasgam o peito para arrancar mágoas.
Pessoas como nós dançam músicas que ninguém ouve.
Pessoas como nós não se envergonham de esfarrapar os joelhos.
Pedir perdão é tantas vezes a única forma de perdoar.
Pessoas como nós esperam, tantas vezes, para sempre.
Pessoas como nós sofrem por nadas, aparentemente, enormes.
Pessoas como nós dão o braço a torcer só à terceira.
Mas rasgam sorrisos logo à primeira!
Pessoas como nós amam, como só ama o amor!

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Se Eu Fosse Como Os Outros

Se eu fosse como os outros,

Eu dormia e acordava.

Não sonhava acordada.

Não sentia o que pensava.

Eu não, eu larguei a amarra,

Escancarei a porta.

Antes doida do que morta.

Sede de infinito que não se acaba.

Idealista de coração trôpego,

Resvalando por todo um nada.

É um drama…

Choro o fado, canto a desgraça.

Brindo à tristeza, bebo da taça.

Se eu fosse como os outros,

Ah… se eu fosse como os outros,

Esperava coisa pouca, graça nenhuma!

O FIM

O fim esteve sempre a rondar.

E um medo absurdo de não ser capaz de continuar.

Gastámos as conversas em desculpas de misericórdia.

Gestos inúteis, recomeços inúteis como todas as discussões.

Falhámos o passo precioso da aceitação.

Abraçámos lutas de poder e jogos de conquista.

O amor, afinal, não vence as batalhas todas.

O amor manchado de orgulhos parvos tinge a alma.

E o perdão é inútil quando não se encaixa a lição.

Não sei bem o que fizemos connosco.

Não te soube ouvir, não me soubeste abraçar.

Fomos alimentando a distância.

Não resta nada do que fomos juntos.

Eu já não sou eu e já não te reconheço em nada.

Quase me perdi com medo de te perder.

E agora…

O cão ladrou e a porta bateu.

Não corri atrás de ti, não fiz perguntas.

Deixei-me ficar imóvel neste sofá.

Sinto o alívio de não ter nada a dizer.

Esta noite há cansaço e o silêncio sabe a paz.

O nó na garganta vai-se desatando, calmamente.

Já não há culpa, nem medo, há somente vontade de recomeçar.

O que poderei dizer sobre hoje…

Estou mais perto de mim e, finalmente, respiro sem ti.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Imprudência

Cometo sempre a imprudência de acreditar.
De me fazer ao caminho quando todos me dizem que não é por ali.
A inocência de pensar que quem dá a sua palavra tem honra.
E que vale mais a morte do que ser verme maleável.
Uma jura não devia ser uma treta.
A necessidade de acreditar que uma palavra não é só uma palavra.
Que dizer a verdade é tudo o que importa.
Incauta esta busca pela clareza.
Em que o preto no branco vale mais do que qualquer manobra ou habilidade.
Esqueço-me que o mundo é para os ardilosos, hábeis na encenação.
Esqueço-me que no fim ninguém quer saber do que disse.
Tropeço sempre no egoísmo parvo que se enfurece e me derruba.
As máscaras não deixam ler o que diz a pele.
E são bonitas e vestem personagens magníficas.
Discursos dignos de prémio, posturas que transpiram rectidão.
Mas que vão beber ali, ao mar da aparência, gotas de traição.
E o pano cai, o ego inflama-se e a fractura exposta deixa ver o sujo que há por dentro.
O lixo abunda… e dignidade? Nenhuma.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Mulheres e Príncipes - A Raiz do Problema

Há uma grande diferença entre homens e mulheres, muito mais do que uma questão de género, é uma questão de estilo de vida, de opções, de gostos, de escolhas e de visão acerca das próprias relações.


A preocupação em ficar "solteirona" ou "ficar para tia" é uma constante nas conversas entre amigas, começa na adolescência e agudiza-se quando os trinta anos se aproximam, quando família e amigos parecem ter-se unido e fazem lembrar o peso da idade, dizem que "está na hora". E o pior é que isto mói, ou pelo menos mói durante algum tempo até se ganhar resistência. Muitas mulheres chegam a desesperar e a desabafar coisas do estilo: "Estou velha. Não vou arranjar ninguém.".

E neste processo desesperante já nem interessa nada a não ser ter, efectivamente, alguém. Nem precisa de haver paixão porque, dizem os sabedores, isso vai acabar e vai, e o que importa mesmo é a amizade que fica, o companheirismo - não me lixem, por favor! Ah, e a paixão (acredita-se a partir dos vinte e tal - a idade aqui varia consoante o momento em que o desespero bate à porta, umas vezes mais cedo, outras mais tarde) é secundária e, pasmem, até se pode construir. Compatibilidade intelectual?! Deixa lá isso, o importante é teres alguém a quem dizer boa noite e bom dia.

Já para os homens não é nada disto e estar solteiro até dá jeito. Pensam em casar, ter filhos e tal, mas dizem eles: "quando tiver que ser será, sem pressa.".

De facto, muitas mulheres procuram a todo o custo um parceiro para a vida, inventam pontes que não existem senão nas suas cabeças, arranjam desculpas para não terem que ver o que está ali mesmo diante dos seus olhos e já toda a gente viu, tentam descortinar mensagens implícitas em discursos bastante claros do género: "Gosto de ti e quero que sejas feliz, mas talvez eu não seja o homem certo para ti."; ou "Acho que nós não somos muito mais do que bons amigos.". Frases tão claras como água que chegam a valer semanas, senão meses, de autênticos enredos dignos das melhores novelas mexicanas.

As mulheres são mesmo capazes de ir aos pormenores para encontrar pontos em comum com alguém que, vistas bem as coisas, não partilha com elas muito mais do que o mesmo gosto por um iogurte, uma música ou um filme. E vão, a cada nova relação, construindo pontes tão frágeis que se desmoronam no primeiro abanão. Abanão que as faz ver que, afinal, nunca acharam piada nenhuma aos calções de banho dele e que, na verdade, ele não era nada culto, tinha era a mania de mandar umas bocas sobre os assuntos porque não dominava mais do que a tabela de jogos da temporada.

A respeito de conselhos, os conselhos das mulheres, às vezes, são aterradores do ponto de vista racional. E, quando vistos de fora, fazem-nos sentir altamente patéticas, parece que somos mergulhadas numa palermice momentânea. Valha-nos o facto de, na maior parte das vezes, não precisarmos que ninguém nos alerte, porque vamos tomando consciência do estado de desequilíbrio em que estamos.

Já os homens dão conselhos verdadeiramente sábios, do tipo: "Eh pá, sempre te disse que ela era uma seca, sempre a falar de casar e ter filhos, ainda bem que te safaste a tempo. Não faltam mulheres e vamos mas é beber uns copos". Não acham sábio? Eu acho de uma sabedoria tremenda, muito melhor do que conselhos que só nos encorajam a rastejar que nem bebés.

Tão fracotas as mulheres, dizem os homens, acabam uma relação e parece que vai acabar o mundo. E as relações acabam e há choro, ranger de dentes mas o mundo continua lá igual, eles continuam lá iguais, impecáveis, sem rugas de chorar, sem olheiras pelas noites de insónia.

Claro que também há homens assim e, da mesma forma, há mulheres diferentes deste padrão. Mas é recorrente ouvir-se que as mulheres são assim, este "bicho" estranho, complicadas que só elas, com detalhes altamente misteriosos e indecifráveis.

A verdade é que, independentemente do grau de desespero, toda a gente procura alguém, seja homem ou mulher, todos precisam de alguém. É algo da natureza do ser humano, é intrínseca ao ser e nasce connosco esta vontade de ter alguém, de partilhar afectos e muito mais.

Os homens não são menos complicados do que as mulheres, poderão ser, talvez, mais racionais em alguns aspectos. Talvez, as mulheres sejam mais de criar padrões, de elevar expectativas, de procurar a perfeição vinda à terra em forma de homem. Talvez as mulheres sejam mais criativas nessa tendência de distorção da realidade. Talvez sejam mais sonhadoras, sei lá.

E quando me ponho a pensar na razão que leva a tudo isto, chego à conclusão que o problema está (é que só pode mesmo estar aí) na Disney. Na Disney, no seu rol infindável de contos de fadas, no "Era uma vez...casaram e foram felizes para sempre.", nas princesas passivas que sem mexer uma palha encontram um príncipe, nas princesas aventureiras que desafiam tudo e todos e encontram um príncipe, nas boas meninas que beijam um sapo e ele torna-se príncipe… Príncipe encantado, príncipe, príncipe… sempre o príncipe. Mas afinal, quem é o príncipe, que espécime sobrenatural é esse que todas procuram?

As meninas, muito mais do que os meninos, adoram as historiazinhas de final feliz que as põem a ver desde cedo - pais que me ouvem, não deixem as vossas meninas verem esses filmes bonitos até terem a capacidade de perceber que os príncipes não existem! E esse é o problema, é o motivo do flagelo em que muitas mulheres vivem, atrás de uma figura que não existe e à espera que a sua vida pareça retirada de um desses contos.

Vejamos a história da Branca de Neve, uma princesa cheia de obstáculos e privações, boa rapariga e que é acordada para a vida por um príncipe montado num cavalo branco (note-se que o homem nem nome tem), casam e são felizes para sempre. A Cinderela coitadinha que vem lá dos confins da cozinha suja e escura directamente para o palácio; graças, claro, ao seu príncipe encantado (este também não tem nome e, ainda por cima, é encantado) com quem casa e é feliz para sempre. A Aurora ou Bela Adormecida que ia dormir eternamente (não fosse o príncipe Filipe acordá-la com um beijo) mas acabou apaixonada, casada e feliz para sempre com o seu príncipe. A Sereia Ariel que, desafiando as ordens do pai, vem à superfície (a miúda arriscou meter-se em alhada da feia) onde encontra o seu príncipe Eric (que não era príncipe até se casar com ela) com quem vive feliz para sempre no fundo do mar.

Ora, o que é que se encontra de comum nestas histórias? O príncipe (que nem precisa de ter nome, basta ser príncipe, ter atitude de príncipe) salva-as e apaixona-se. E as meninas crescem à espera disto, de serem mulheres e de aparecer um homem sem estarem à espera (a típica frase do "quando menos esperares") que as acorda para a vida. E dizem os homens: "Oh pá, acorda para a vida mulher, os príncipes não existem e se achas que o marido da tua amiga é um, olha fica com ele!".

Depois temos o caso da Bela que casa e é feliz para sempre com o príncipe Adam que, coitadinho, tinha sido transformado em monstro por causa das suas atitudes más e feias, mas que descobriu a bondade com ela.

E pronto, o caldo entorna-se outra vez… Vem daqui a tendência (frustrada) das mulheres pensarem que o vão mudar, torná-lo bom, melhorá-lo, fazê-lo ver o quão bela a vida pode ser ao seu lado - Hello! Monstros são sempre monstros, ninguém os muda e tu não vais mudar o teu, desiste!

Seguem-se a Jasmine e a Rapunzel, ambas apaixonam-se, casam e são felizes para sempre com Aladino e Flynn Rider respectivamente. Que até serem príncipes não passavam de ladrões de rua com charme mas, que no fundo, eram uns bons rapazes.

Digam lá se nunca ouviram: "Ah e tal, as mulheres só gostam dos maus, dos "badboys", os bons não querem elas, acham-nos sempre uns mansos.". Pois, se calhar a culpa é da Jasmine e da Rapunzel que nos fizeram acreditar que por detrás de um menino mau está sempre um bom rapaz, de coração puro e que, por nós, é capaz de deixar de fazer coisas más e blá-blá-blá. Ou, se calhar, temos no nosso íntimo uma vontade louca de transgredir a lei, de roubar uma pastilha no supermercado, sei lá. Embora hoje em dia, me pareça que essa ideia das mulheres gostarem dos maus e a cheirar a cavalo, não é verdade. E miúdas deste mundo, se vocês se meterem com um ladraozinho de beira de esquina, é bem provável, por exemplo que acabem num bairro qualquer a vender droga ou a irem ali à cadeia mais próxima pedir visitas conjugais - prestem bem atenção!

Temos depois a Tiana do filme "A Princesa e o Sapo", um caso isolado no que toca ao seu príncipe Naveen que é o único que é literalmente descrito como, aquilo a que chamamos hoje, o "playboy" e boémio (ah, e sapo!). Ele é um mulherengo inveterado, sempre atrás de todas as miúdas giras (e de preferência ricas) mas que se apaixona por uma miúda lutadora, trabalhadora, humilde, que sabe cozinhar bem, com quem casa e é feliz para sempre.

Cá está ela, a célebre história do sapo que vira príncipe. Quem nunca ouviu algo do género "Até encontrares o teu príncipe, tens que beijar muitos sapos", que se acuse! Ele é mulherengo, boémio que só ele, o verdadeiro sapo? Não faz mal, espera sentadinha que, num belo dia, ele há-de tornar-se o homem mais maravilhoso de sempre, que só vai ter olhos para ti e fazer-te a mulher mais feliz do mundo. E é isto, a Disney a incutir esperanças nulas. Porque, minhas queridas, eles não se transformam, sapo é sapo e se o beijam, vocês é que ainda acabam num charco qualquer.

Se formos mais longe, podemos juntar a estes príncipes, os heróis. Pois que também os há nestes contos. Não são bem príncipes, na medida em que cativam mais pelos actos de bravura. E aqui entra, por exemplo, o Hércules.

De facto, não podia deixar de fora a acusação recorrente de que as mulheres só gostam de tipos musculados, fortes e robustos. O que não é verdade e facilmente se rebate com o contra-argumento de que os homens também só gostam de mulheres de curvas, também conhecidas entre eles por "gajas boas".

Porém, desenganem-se as almas deste mundo que pensam que só as mulheres são afectadas pelas histórias da Disney. Os homens também são, mas de outra forma que acaba por afectar, mais uma vez, as mulheres. Aqui não são elas que se põem no problema, são eles que as põem.

Estou a falar, como é óbvio, do nosso querido Peter Pan e da sua Terra do Nunca, a personagem que não cresce, é criança para sempre, vive no seu mundo à parte onde nem toda a gente tem capacidade de entrar e para onde tenta levar os outros.

Efectivamente, não podia deixar passar sem breve alusão, a síndrome de que muitos homens padecem comummente apelidada de síndrome de Peter-Pan.

E quem são estes Peter Pan das nossas vidas, quem são? Pois é, são aqueles homens que nunca crescem ou que não querem crescer, não querem abandonar o seu mundo de fantasia e serem homens à séria, adultos com responsabilidades. Aqueles que as mulheres dizem não ter maturidade emocional, mas em relação aos quais as amigas dizem (conselho sábio, este): "Tens que ter calma, ele vai crescer um dia, sabes que nós mulheres crescemos mais rápido mas acredita, ele vai lá chegar" - Tretas, tudo tretas! É que não há paciência para estes homens que, não o são de verdade mas também, já não são crianças. São o Peter Pan que nos aparece de quando em vez e que, quase nos arrasta para a infantilidade dele (valha-nos o bom senso!), que nos tira do sério e nos faz entrar, tantas vezes, em jogos ridículos para os quais nenhuma mulher tem já paciência.

Por tudo isto, pode-se concluir que se não fossem estas histórias encantadas em que são todos felizes para sempre, estes príncipes que, para além de bem apessoados (todos eles de estatura média, músculos trabalhados), são gentis, apaixonados e valentes; se não fossem estas princesas que depois de martírios, sofrimentos, obstáculos e lutas, encontram príncipes e são felizes para sempre; se não fossem estas histórias autênticos relatos de vidas, aparentemente infelizes, que como por magia se tornam nos mais belos romances (de ir às lágrimas mesmo); as mulheres não cresciam a acreditar que também vai ser assim com elas.

A verdade é que, e podem tirar o vossa cavalinho da chuva, se arriscarem meterem-se em sarilhos por causa de um suposto príncipe, o mais provável é que tenham mesmo confusão da grossa (a Ariel é uma excepção). Se entrarem num sono profundo é bom que tenham um despertador à mão porque não vão ser acordadas por um príncipe, com um daqueles beijos dramáticos (a Branca de Neve e a Bela Adormecida são uma excepção) ou, até, serão aconselhadas a consultar um psiquiatra por suspeitas de depressão profunda. Nem pensem que se perderem um sapatinho à saída festa, andará alguém à vossa procura, até porque se o sapato for de marca (ou de cristal) é certo que alguém vai ficar com ele ou então irá parar ao contentor de lixo mais próximo (a Cinderela foi uma excepção).

Estas "lavagens" cerebrais que as miúdas levam desde a altura das fraldas são, e não tenho dúvidas, um enorme contributo para que na sua vida adulta estejam à espera de um príncipe qualquer. Aliás, se ainda não houvesse carros, diria mesmo que o esperariam, hoje, no tal cavalo branco e quiçá de espada empunhada. - Fim!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

#a reter

O Amor não é um hábito e se for, então não é Amor!

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Ele: Qual foi a coisa mais radical que fizeste?
Eu: Apaixonar-me!
Ele: Não! Algo realmente radical, que só se faz uma vez na vida?!
Eu: Ah, apaixonar-me duas vezes pela mesma pessoa!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Saudade

É ali que me separo de ti.
E a saudade se insurge de faca empunhada.
Golpes e ais.
A saudade é feita de ais.
Por todos os beijos que se perdem.
Por todos os abraços que não se dão.
Por todas as palavras que se calam.
Abrem-se feridas sem remédio.
Não há cura para a saudade.
Há ais profundos.
Há medo de esquecer.
Não saber mais o cheiro.
Não reconhecer a voz.
Perder, por entre recordações, os detalhes.
Não recuperar histórias.
A saudade é fechar os olhos e querer voltar.
Mais do que voltar ao momento,
Voltar a ti e sentir tudo.
Viajar nas emoções.
Ter-te e ter tudo o que de ti me faz falta.
Ah… esta saudade.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Gostar, Adorar e Amar

No que toca às tralhas do sentir, da afeição, da satisfação e do apreço, ao longo da vida, já toda a gente sentiu o peso da emoção do que é gostar, adorar e amar.
Muitos dirão que isso é tudo a mesma coisa, que só varia na intensidade ou no contexto. Ora, não poderiam estar mais enganados pois não poderiam ter significações mais distintas.
O que acontece é que as pessoas ou não as conhecem ou confundem-nas. O mesmo se pode dizer em relação aos verbos detestar e odiar ou às expressões de reconhecimento e gratidão "agradecido" e "obrigado" que, embora muito semelhantes, não querem dizer exactamente a mesma coisa.
Dos principais verbos sentimentais, aquele que as crianças mais cedo aprendem é o gostar, um pouco depois o amar, e só muito mais tarde, o adorar. As crianças repetem que gostam ou que não gostam disto e daquilo, de tudo e mais alguma coisa.
Mesmo na pré-escola ou na escola primária, é frequente ouvirmos os miúdos dizerem "Gosto daquela menina.". Gostar é inocente, é simples, é genuíno.
Por outro lado, se pensarmos em cartas de amor, que toda a gente já escreveu ou recebeu, pelo menos na escola, é quase sempre o verbo amar que lá está, é o sentimento ido ao mais profundo, aquele que dilacera, é o "Amo-te!".
O adorar chega-nos muito mais tarde, talvez por se referir a um sentimento um tanto complexo. E o mais espantoso é que é usado para tudo e mais alguma coisa.
Há quem diga que não é só o adorar, que o gostar e o amar se banalizaram da mesma forma, o que não deixa de ser verdade.
Basta pensarmos no Facebook, essa rede social onde, num minuto, podemos "gostar" de uma data de coisas. Assim, sem pensar muito, tantas vezes sem se gostar de facto, gosta-se e pronto. Deturpa-se a palavra e o sentimento, acabando por se usar o gostar como uma espécie de marcador, ao estilo "Sim, eu li isto." ou "Isto não me foi indiferente.".
O amar, dizem por aí, já não é usado com verdade e é usado com demasiada facilidade. Há quem vá mais longe e diga que já não se ama como antigamente, que só se devia amar uma vez na vida e que hoje, ama-se desenfreadamente, muito e muitas vezes, ao invés de se contar pelos dedos das mãos as vezes, ou as pessoas que se ama.
Parece-me que, muito por isto, o adorar surge como a alternativa razoável, a que não é pouco nem diz de mais. É ali o intermédio, numa espécie de escala de intensidade e que, com muita sorte para nós, encaixa em quase tudo, desde pessoas até lugares ou objectos. Portanto, vê-se por aí um sem fim de adorações.
Ora, isto assusta-me, confesso mesmo que me causa urticárias ouvir pessoas dizerem umas às outras coisas do tipo "Nem sabes o quanto te adoro…" ou "Eu não gosto de ti, eu adoro-te!", imagino logo uma cena - um prostrado no chão a prestar veneração, num amor de idolatria absoluta, de penitência, num beija-pés e o outro num pedestal, meio inacessível. E o marketing relacionado com o amor ou com o (mais do que piroso e ridículo - absurdo!) Dia dos Namorados alimenta este erro, é comum ver-se nas montras das lojas, por altura do 14 de Fevereiro, uma panóplia gigante de artigos desde o peluche até ao mais comum postal, com frases estapafúrdias ao estilo "Adoro-te minha querida!" ou "Adoro-te para sempre!".
Pessoa nenhuma deveria adorar outra pessoa - medo, tenho muito medo destas adorações!
Para mim, este é, verdadeiramente, o grande problema da nossa sociedade e das pessoas e o motivo, mais do que bastante, para o fracasso das relações inter-pessoais. Mais do que se amarem pouco ou odiarem muito, o grande flagelo é esta tendência patética das pessoas se adorarem umas às outras.
Adorar é coisa de deuses, coisa assim idolatrada e, é comum até ouvir-se - Adorar só a Deus! Só que as pessoas não têm consciência de que adorar é um gostar, sim, mas um gostar a roçar o endeusamento e, porquanto, a insensatez de um orgulho todo ele demasiado.
Não me parece, de todo, possível que duas pessoas que se adoram possam ter uma relação amorosa ou de amizade. Numa relação de adoração não é possível termos duas pessoas ao mesmo nível, no mesmo patamar do sentir. E ainda que no amor cada um possa ter a sua forma ou a sua profundidade de amar, o seu patamar (numa relação de amor conjugal nem sempre as duas pessoas amam da mesma maneira, pode haver uma que ame mais do que a outra - isto se é possível medir-se a coisa, que eu, modestamente, acho que não), adorar implica uma certa sujeição em que não se está numa situação de partilha. Está-se, antes de mais, numa situação de culto.
Culto também é amor? Sim, digamos que é uma de muitas formas de amor. Só que é um amor de respeito tal que não deixa espaço ao toque, é demasiado civilizado, é perfeito e inquestionável, é um amor de paz. E o amor ou amizade não podem ser tão civilizados que não permitam que, de quando em vez, num genuíno reflexo da nossa condição de imperfeição, se questione, se magoe, se grite e esperneie e até, se perca a razão e a noção.
O amor de casal ou uma verdadeira amizade, não podem ser tranquilos e inquestionáveis porque são sentimentos de reciprocidade entre seres imperfeitos, e o que é imperfeito não é polido. Pelo contrário, é um interminável caminho na busca pelo entendimento e aceitação.
Aceito que se possa adorar partes de alguém, por exemplo, eu adoro a mente de algumas pessoas, mesmo! Adoro a genialidade de alguns pensamentos, posso adorar uns olhos, talvez. No entanto, não estou com isto a adorar a própria pessoa porque isso implicaria um todo venerável, perfeito e absoluto, e isso é impossível entre pessoas de carne, vulneráveis, imperfeitas e comuns mortais.
Percebo quem não pensa assim, para quem adorar é uma forma profunda de gostar de alguém semelhante, um homem, uma mulher, um filho, um pai, um amigo… Dos sentimentos não se julga, cada um tem os seus, obviamente. Mas juro que não entendo quem me diz que usa a expressão "adoro-te" porque gostar é pouco e amar é muito.
Acho, sobretudo, que as pessoas têm medo de amar ou de dizer que amam e não alcançam a grandiosidade de se gostar, que julgam sempre básico, poucochinho. Gostar é o sentimento primordial, é tão simples quanto importante e, se gostar de alguém é tanto, gostar muito é valioso.
Já amar, amar não é para todos, amar é um privilégio. Como que um dom que não se confere a qualquer um e, nessa medida, ainda que dispense desfiles e vanglórias parvas, deve ser assumido, gritado e, mais do que tudo, dito a quem se ama.
Quase que aposto que muitas das pessoas que dizem que adoram alguém, dizem-no com medo de dizer que amam. Ou, como já disse, como não sabem o seu verdadeiro significado, até julgam que adorar é muito mais do que amar, muito mais impressionável e capaz de causar no outro maior admiração.
A juntar a este medo miserável das pessoas amarem, este medo que arruma com as relações e trucidera os sentimentos mais puros, há também uma certa inércia disparatada.
Quero com isto dizer que, para muito boa gente, basta dizer o que se sente e que para o outro tem que bastar sabê-lo ou ouvi-lo. E, a partir do momento em que dizem que gostam, adoram ou amam, não é preciso fazer mais nada. A coisa basta-se por ali, exonerando-se eles próprios de qualquer necessidade de o demonstrar.
Até vou mais longe, se porventura alguém questionar (e lá está, se fosse adoração, seria inquestionável), a resposta é quase sempre - "Mas eu disse que te adoro, isso não te chega? Devia chegar saberes o que sinto por ti, mas tu queres de mais, queres sempre de mais.". E diga-se, há pessoas que, infelizmente, têm sempre muito medo de alguém que gosta ou ama "de mais" (é impossível o adorar ser de mais, porque adorar é já por si algo demasiado, logo não se pode adorar de mais - mais uma vez, um indício da confusão de que tenho vindo a falar).
No fundo, talvez não seja só uma questão de desconhecimento de significados e de confusão destes mas, uma verdadeira questão de medo, digo eu.
Da mesma forma, afirmo veemente que pessoa alguma me ouvirá dizer que a adoro, porque das pessoas eu gosto, muito ou pouco, ou até nada. E defendo que devia ser assim, sempre!
Da minha parte, não adoro nem nunca adorei ninguém, adoro sim, por exemplo, poesia - é assim uma coisa idolatrada, adoro vinho e comida - são verdadeiramente objecto de culto da minha parte, quase uma religião.
Portanto, não desejo nem espero mais do que gostem de mim, me amem ou até que me odeiem mas que nunca, mesmo nunca, me adorem de maneira alguma. O mesmo aconselho a toda a gente, a bem do amor e das relações, não adorem ninguém e se alguém vos adorar, fujam o mais que possam. Porque adorar assim, pode ser demência ou, pelo menos, doentio.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Aos 27 foi mais ou menos assim…

Perdi uma pessoa importante.
Estreitei laços e desatei nós.
Guardei todas as saudades como tesouros; e tive muitas.
Conheci pessoas interessantes e outras nem tanto.
Mas alarguei horizontes.
Despedi-me várias vezes de várias pessoas.
Viajei.
Também fiz várias viagens emocionais.
Dormi menos, muito menos.
Sonhei e desejei muito e de várias formas.
Tentei ser mais racional e consegui-o, quase sempre.
Apaixonei-me uma vez.
Cantei a plenos pulmões.
Bebi menos mas embebedei-me três vezes.
Dancei como se fosse a única na pista.
Disse disparates e falei com estranhos.
Chorei sempre de tristeza.
Dei conselhos e ouvi sermões.
Limpei lágrimas.
Partilhei momentos e sentimentos.
Sorri muito e dei gargalhadas profundas.
Remexi baús só para recordar, sem sofrer.
Escrevi muito.
Paguei dívidas e contraí novas.
Tive calma.
Amei muito e disse-o sempre.
Falei sozinha.
Mas nunca me senti como tal.
Dei abraços apertados, bem apertados.
Dei muitos beijos e mimos.
Beijei e abracei um estranho.
Arrisquei de várias formas.
Devorei chocolates.
Fui responsável e cumpri objectivos.
Fiz promessas e honrei outras tantas.
Tive conversas longas, sérias e interessantes.
Mudei de opinião em relação a pessoas e assuntos.
Revoltei-me meia dúzia de vezes.
Aumentei o meu núcleo duro de amigos.
Comi mais e corri menos; e lamentei-me por isso.
Arrependi-me duas ou três vezes.
Acreditei e confiei.
Senti-me especial uma ou outra vez.
Tive medo e arrumei com alguns.
Conheci lugares novos e revisitei velhos.
Fui fiel, directa e sincera.
Lutei e defendi.
Cresci, cresci tanto.
Fui feliz com consciência!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Beber O Mundo

Quero conhecer o mundo pelos teus olhos.
Pela tua boca, a cidade não é a cidade.
Pela tua boca, eu não sou eu.
Tu não falas do que vês, falas do que sentes.
Amas os pormenores, conheces a alma.
Vais ao avesso e desvendas os enigmas.
Não alcanço esses lugares, não lhes conheço o sabor.
Quero ir nas tuas viagens.
Sentir para lá do que vejo, ver para além dos corpos.
Respirar as cores, tocar com o olhar.
E no regresso, cerrar os olhos e ver tudo de novo.
Ser capaz de voar.
Ser maior em pensamento.
Ter a imaginação como limite.
E na base,
Ah… amar!
Beijar o vento, abraçar o mar.
Banhar-me nas emoções e vestir a vida com verdade.
Poder ser tudo em todo o lado.
Devorar os sonhos a rir, derrubar as paredes do quadrado.
Quero viver assim, como deve ser, intensamente.
Embriagar-me de vida, beber o mundo.

sábado, 16 de março de 2013

O Encontro

Abraços, traz-me abraços.
Peço-te, que me tragas tudo.
Traz-me beijos e todos laços.
Podes vir cedo, podes vir a qualquer hora.
Mas que o nosso encontro seja pela noite fora.
E que a hora de acabar seja quando um dos dois quiser.
Que me sintas por um instante que seja.
Assim, acredites no que o meu olhar disser.
Um abraço é tudo quanto se deseja.
Acabem-se as recordações do que nunca aconteceu.
Que os sonhos deixem de ser infundados.
Vem, já anoiteceu.
E eu sinto falta dos momentos não amados.
Das palavras não ditas, de tudo quanto não fizemos.
Ah, tenho saudades do abraço que nunca demos!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Amar com dia marcado é tão insosso!

Diz-me Tu

O teu corpo destemido que se fez ao meu.
O sabor da tua pele tão perto da minha.
Um sorriso aberto, um beijo nos olhos.
Esse momento lento num tempo suspenso.
O mundo não abrandou.
Nem o mundo nem a vontade de chegar ao avesso.
A tua voz no meu pescoço e o abraço que se deu.
O meu perfume na tua língua.
Fez apetecer um assalto que não aconteceu.
O teu cheiro em mim.
Ah! O teu cheiro ainda…
Diz-me tu o que fazer com ele.


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Look Around

Look around.
We are all the same…
Imperfect souls in bodies seeking for perfection.
Look around.
We want everything and we run for nothing,
Depleting feelings and wasting our days.
Leaving so many lives behind.
Look around.
We walk in circles, lost in tricks.
Look around.
In fact, we just need one thing.
What's best dress, under the skin… Love.
The long and, definitely, the only way.


P.S. o texto está em inglês pois trata-se de um texto escrito por mim para uma marca e, a pedido desta, teve que ser em inglês. Portanto, entendi que traduzi-lo não faria sentido!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O que eu levo da vida são, mais do que qualquer outra coisa, as viagens emocionais, os beijos, os abraços, os afectos e todos os laços.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Cartas

Escrevo cartas de amor na real certeza do erro.
De dentro como o desejo manda.
Escuras, assim a verdade molda.
Escritas ontem.
Não me parecem sentidas hoje.
Paixão arrependida do arrebatar fácil.
Tarefa parva da alma sozinha.
Ouve o piano numa melodia sombria.
A tela, em nódoas, de cinza e árido pintada.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Há quem ouse querer tocar o céu sem sequer erguer os braços!


De perto, ao longe

O fim ali tão perto.
Espelhado no sol daquela manhã.
O teu corpo inundado pelo frio impiedoso.
O regresso visto assim de longe.
Apagas ao de leve as histórias delineadas.
Escrevo pelo corpo à tua alma.
Só depois, reinvento-te hoje.
As feridas afogadas na garrafa terminada.
O lado claro da tua pele curada.
Fazem sentido palavras de vontade encharcadas.
Por perto, o tempo abranda nesta volta, vinda de longe.
O que dizes aproxima-se, depois.
Aqui, de perto, o fim acena ao longe.

sábado, 19 de janeiro de 2013

O Perto fez-se Longe

Escrevo no teu corpo as convenções.
Vais falando, estás longe.
O sol queima a pele que já não sente.
Perdes os dedos em mim.
E desenhas-me a história nos contornos.
Traço firme na luz imperfeita.
Escorro a garrafa, vou escrevendo.
Na debandada das emoções.
Vais lendo lá de longe, no tom da manhã.
Sabe a frio o meu corpo de ti tão perto.
Perco a tua voz no eco da moral chagada.
O arrojo vem longe, no rascunho desconexo.
Não está certo.
Pertence a ti a obra de acabar.
Morremos assim num acordar duvidoso.
A fantasia está longe.
Morremos assim sem o amor regressar.
Ao fundo, o fim ao longe.
Está tão perto.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Um Poema

Pega-se em tudo e mais uns quantos "nada".
Numa mistura que se grita pelas mãos.
Um poema é isso.
Metade é amor, outra metade é dor.
Um tanto de ilusão, de vontade.
Outro tanto de castração, de pejo.
Um poema é isso.
O que se sente e mais o que não se quer sentir.
O frio da realidade ou o sonhar do desejo.
O avesso ou a capa, tanto faz.
Um poema é isso.
Uma linha de verdade e um resto de encenação.
Tudo quanto se vive e uma imensidão que se viaja.
Ou ao contrário se preferir.
A carta que se guarda ou a folha que vai para o lixo.
Um começo ou um fim.
Um poema é isso.
O que não se quer calar sem se chegar a dizer.
O que não se explica mas a emoção traduz.
É isso, um poema é isso.
Ou até mais, se calhar.

Não Se Adorem

O grande problema das pessoas não é amarem-se pouco ou odiarem-se muito.
Não, o grande problema é essa tendência patética de se adorarem umas às outras.
Pessoa nenhuma deveria adorar outra pessoa.
Da minha parte, não adoro nem nunca adorei ninguém.
Que gostem de mim, que me amem ou até que me odeiem mas que não me adorem de maneira alguma.
Tenham medo de adorações e fujam a mil se alguém vos adorar!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Toda a dúvida é uma vontade suspensa!

Se Eu Te Pedisse

Se eu te pedisse que calasses o ar,
Aquele que se estende e alimenta a nossa distância.
Sonho.
Se eu te pedisse que parasses o tempo,
Como se fosse nosso.
E eu e tu, eternizados num olhar que não se afasta.
Bebo da fonte em que esgoto a procura.
És meu, sou tua.
Tocam-se as almas num abraço.
Tens o dom de me despertar da fantasia,
Abro os olhos.
És ainda meu, eu sou ainda mais tua.
Se eu te pedisse…
Sonhavas também.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Quem disse que viver é difícil mentiu.


A parte mais difícil é dizer adeus.

Sem Tempo

Aperto o tempo nas minhas mãos como se fosse meu.
Agarro-o como se, no fundo, agarrasse todas as oportunidades.
Deixo-me ficar na ilusão desse controlo.
Sorrio e nem noto que ele se esvai como areia por entre os dedos.
Abro as mãos e não sobra nada.
Nem oportunidades e já nem tempo para as sonhar.

O Caminho

A viagem continua…
Traço um plano e faço-me ao caminho.
As saudades pesam-me na bagagem.
Mas não me desfaço de nenhuma.
Cada uma tem o seu encanto e a sua dor.
O vento sussurra palavras que não entendo.
E folhas rodopiam numa dança de tons alaranjados.
Há calma.
Há uma serenidade que se veste de frio.
Encolho-me dentro de mim num murchar absoluto.
Assaltam-me considerações perversas e patéticas.
Cresce uma fome de desapego.
Tiro dos bolsos as memórias que trago.
Deixo-as ficar pelo caminho num rasto de luto.
Prossigo em busca de coisa nenhuma.
Nada, nunca encontro nada.
Chego ao fim, nova estrada, novo rumo,
E a viagem continua.