segunda-feira, 20 de março de 2023

Aos 37 (em resumo e na recta final)

Continuei o plano do ano anterior - tenho um longo caminho nessa tarefa de perceber se faço por acontecer o que realmente quero e sonho.

Percebi (e demorei muito tempo) que temos que abrir mão de algumas pessoas para sermos mais leves e estarmos bem.

Sinto que estive pouco com os meus amigos amados, em boa parte por culpa minha – e a culpa é tramada na minha cabeça, desassossega e deixa-me frustrada.

Arreliei-me com várias pessoas e situações parvas, mas consegui manifestar, das mais variadas formas, a minha opinião – aprendi que calar mói!

Voltei a um lugar que me fez (que ainda faz) feliz, embebedei-me fortemente, chorei, dancei e quase que senti que estava tudo no sítio como se os anos não tivessem passado por mim, pelos meus, pelos lugares...

Não fiz a viagem e resignei-me.

Não me senti velha mas senti-me crescida, finalmente senti-me adulta.

Não sei se me tornei mais ansiosa, mas achei que o tempo voa. E sem querer entrar em chavões, em verdade vos digo, que o tempo passa muito rápido, embora acredite, para o bem e para o mal, que o tempo é (quase sempre) generoso.

Fui mais prática e menos poética – não tem graça nenhuma!

Não tive medo de morrer mas tive muito medo que alguém me morresse, e tive ainda mais medo de que alguma coisa aconteça à minha Carlota sem que eu consiga fazer nada para o impedir – acho que vou ter que aprender a viver com isso.

E por falar em Carlota – meu amor, minha vida – senti-me orgulhosa, de coração cheio. Não tenho dúvidas que a vida começou naquela manhã de Setembro em que me tornei mãe, passei a ser tantas mulheres numa só – Carlô, a vida não chega para o amor que te tenho, minha bicha sarrafeira que me ensinas tanto!

Fartei-me de fazer bolos e sobremesas – continuo a sentir que cozinhar para os outros é um acto de amor.

Mais do que no ano passado, arruinei o plafond do meu seguro de saúde, fui definitivamente mais vezes à farmácia do que ao restaurante (isto é triste) e pensei muitas vezes em doenças – maldita hipocondria, maldita genética, maldito cancro!

Revisitei lugares que amo e que farão, para sempre, parte de mim e do que sou.

Senti falta de viajar com a minha irmã – Inês, podemos mudar isso este ano, vamos ao Brasil?!

Pedi ajuda, eu—pedi—ajuda várias vezes, a várias pessoas, para várias coisas. É verdade! - Isto para uma pessoa que tenta fazer tudo sozinha é um passo enorme.

Pensei no passado, nas saudades e deprimi-me com o facto de que num instante, tanto passa para o plano das memórias – bem, pelo menos essas nada nem ninguém nos rouba!

Falei muito dos meus avós e de como gostava de poder deitar-me no colo da minha avozinha e de lhe falar de mim e dos pequenos.

Colo?! Tive tanto colo e dei também e isso é muito bom.

Numa tarde de sol, perdida em pensamentos na aldeia a olhar para uma borboleta branca, senti o meu querido Pedro ali. – a vida é mais pequena sem ti, Peter, my love!

Disse, com todas as letras, a todas as pessoas que amo que as amo, e aceitei que algumas pessoas o dizem por gestos, algumas vezes subtis e não está mal – há que abraçar!

Bati-me contra a má educação e percebi que há pessoas que vivem em ira. – I rest my case!

Dei segundas oportunidades a mim e aos outros mas, confesso, é difícil arrumar o desencanto e tentar com o mesmo entusiasmo inicial – meus caros, perdoar e tentar tem muito que se lhe diga, é preciso ginástica emocional!

Não tive dúvidas que “não há passos divergentes para quem se quer encontrar”, sabendo que é preciso bater com a cabeça, raspar joelhos, fugir das sombras e fazer ouvidos moucos a quem teima em dar palpites.

Aprendi que não podemos cobrar aos outros que sejam o que esperamos se o que esperamos é o oposto do que são – afinal, o amor é aceitar as diferenças, certo?!

Dei muitas gargalhadas profundas, chorei menos (quase sempre de nervos e não de tristeza).

Sonhei muito acordada e desejei um sem fim de coisas, algumas impossíveis, talvez! Mas como dizia o Poeta, “Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser...”.

Viajei pouquíssimo mas, na verdade, viajei muito emocionalmente e se isso não conta para nos enriquecer, então não entendo nada.

Senti-me rica de amor, de família e de amigos! Senti-me grata e privilegiada!

Bebi whiskey algumas vezes e, pode parecer estranho mas isto foi um reencontro comigo. – Sim, eu sei, tenho problemas variados ao nível cabeça!

Abracei pessoas e desafios, sendo que o maior foi, sem dúvida, ser feliz com consciência – sou perita em ser feliz e nem saber. Ah, dei beijos, muitos beijos – já todos sabem que gosto de beijos e abraços (e de whiskey).

Tentei ajudar, da forma mais discreta quando não solicitada, e dei conselhos.

Fui feliz em Itália – obrigada Pedro!

Reencontrei amigos antigos, mesmo antigos e fiquei feliz.

Tive sede de música, de pintura e de poesia – a vida sem isto é muito insossa.

Comi muito chocolate e andei o tempo todo a lamentar-me.

Dentro de toda a pressa, acho que vivi tranquilamente, com menos sobressalto – tive aquela sensação, típica de quem é dramático, de que não se passou nada porque houve menos “ruído” quando, afinal, isso é que é viver.

Apreciei o sol e o mar - não há nada que se compare à pele salgada e a um grande mergulho - aquela fracção de segundo em que não existe nada se não o nosso corpo a entrar na água.

Trilhei caminho novo sem nunca, mas nunca, adiar o amor por que o amor é urgente, e não sendo a cura, é sempre a nossa salvação!