segunda-feira, 30 de outubro de 2017

O Amor Não Cura Tudo

Hoje acordei com a sensação de que já tinha vivido este dia.
Louca, pensei.
Repetidas, uma a uma, todas as coisas que sentia.
Mas loucura, nenhuma.
Só um calor a escorreguer pelo rosto,
Para me lembrar,
Calmamente me lembrar,
Que a vida é, assim mesmo, crua.
E há dias em que acordar,
Não tenho dúvida,
É um novo passo atrás na luta,
Porque o amor,
Ah, o amor! O amor salva-nos mas não cura tudo!

sexta-feira, 23 de junho de 2017

S. João 2017

Este ano no S. João 
Sem o iluminar dos balões
Procuremos todos reflectir
Em aconchegar corações

sexta-feira, 31 de março de 2017

Aos 31 (o texto do costume)

Soube que vou desempenhar um dos papeis mais importantes da minha vida - vou ser tia e estou histérica.
Aterrei no cockpit de um avião e amei.
Alimentei tartarugas.
Fui operada aos olhos e tive dos piores dias desta idade com ânsias e desespero e choro.
Conheci pessoas certas na hora errada e pessoas erradas na hora certa.
Perdoei e perdoei-me.
Iludi-me.
Nem sempre disse tudo o que sabia mas disse sempre tudo o que era necessário.
Revisitei velhos lugares que estão gravados na memória e no coração.
Beijei uma pessoa improvável e decidi não pensar muito, afinal devemos "beijar aqueles que a sorte nos destina".
Fiz as pazes com uma pessoa importante e, assim, fiquei em paz com todos.
Sofri com a morte e chorei por mim, mas mais por quem sofreu mais de perto.
Tive saudades, antecipadas e outras velhas e gastas.
Pedi desculpa sempre que devia - mas algumas vezes apenas como forma de eu própria desculpar.
Senti-me realmente em paz.
Fiz menos disparates e desejei fazer alguns.
Viajei sozinha.
Dei muitos abraços apertados e abracei pessoas novas.
Dormi, na maior parte das vezes, mal.
Quase me apaixonei de novo pela mesma pessoa mas, felizmente, fiquei pelo quase.
Vi muitos filmes.
Fui chata e repisei assuntos até não haver mais dúvidas.
Ganhei uns quantos cabelos brancos e senti-me envelhecer.
Queimei o cabelo com uma vela num desastre que podia ter sido catastrófico e, claro, fiz um drama durante uns dias.
Ah, e gorda, senti-me gorda.
Faltei pouco aos treinos e compensei as faltas.
Fui menos impulsiva.
Desvalorizei mas ainda assim fiz alguns dramas.
Percebi que sou hipocondríaca - e sofro com isso.
Tive falta de ar.
Conheci muitas pessoas novas mas encantei-me com poucas.
Dancei muito.
Bebi menos, mas passei dos limites uma meia dúzia de vezes.
Quase não escrevi e isso deixou-me de rastos.
Fui menos criativa.
Fartei-me de rir e de apalhaçar momentos.
Senti-me grata, profundamente grata como nunca.
Tive medos, uns fundamentados e outros nem por isso.
Fiz planos e foquei-me em cumpri-los.
Paguei dívidas.
Reconheci falhas e tentei melhorar.
Tentei ser mais simpática de manhã - definitivamente não sou uma morning person.
Esforcei-me por ajudar e fui bem sucedida.
Acordei cedo aos fins de semana e passei domingos inteirinhos de pijama no sofá.
Tentei gerir as emoções e não me desiludir.
Melhorei a fobia ao telefone - está nos 60%.
Deixei de desejar coisas e passei, apenas, a sonha-las.
Estive 3 dias a tomar banho só de mar e pensei que ia ficar com o cabelo em pedra.
Chorei só de tristeza- umas quantas vezes.
Parei e apreciei o mundo - maravilhei-me.
Ri e falei sozinha.
Tentei ser mais saudável - ainda assim comi quilos de chocolate.
Revoltei-me e barafustei - continuo sem perceber a maldade das pessoas.
Mantive a palavra.
Mudei.
Rezei.
Vivi a correr mas com calma.
Disse às pessoas que gosto delas e fiz declarações de amor a algumas.
Dei-me realmente aos outros.
Tive o coração cheio, mesmo cheio e sereno - e isso é tudo!
Obrigada!

domingo, 8 de janeiro de 2017

À Beira-Mar

Faltaste tu naquele dia.
E cresceu em mim aquela angústia lugente,
De quem guarda nas mãos,
Suave e fria,
Uma triste memória ainda quente,
De quem fomos noutro dia.
E todos os rostos que passaram por mim,
Ah...! Quem me dera não lembrar,
Cada traço definido que percorri,
Sim! Todos eles foram de encontro a mim,
Tenho a certeza,
Foram de encontro a mim para me recordar de ti.
Naquele dia em que faltaste,
Não houve sol e nenhum vento,
Só o grito asfixiado do lamento,
Perdido por entre a chuva e a gente.