domingo, 22 de fevereiro de 2015

A Sónia e a Amiga - O Rescaldo

Na Segunda-feira encontrei as nossas queridas no café.
Chegaram depois de mim. A Sónia vinha com um ar abatido pelo que presumi que talvez o Carnaval tivesse chegado mais cedo para ela, talvez no dia 14.
Vinha discreta no seu estilo "Miss Rinchoa 2015", de salientar apenas as suas botas arranha-céus cor-de-rosa claro com solas brancas tipo pneu de trator.
Pelo que percebi, afinal, a Nicole não a acompanhou à festa do semáforo no Dia dos Namorados porque foi de fim-de-semana romântico para o Gerês – minha amiga, quando se trata desses programas, não há festa que demova as amigas, nem por solidariedade. A Sónia foi à festa com um casal amigo.
- Conta-me tudo amiga, o Nelso estava lá? – NELSO???? Deus do Céu Nicole, Nelson, diz-se Nelson! Finalmente descobrimos a identidade do "Zé Manel", yupiii!
- Estava, quando lá cheguei estava ao pé do bar a beber uma daquelas bebidas que vêm naqueles copos bué grandes tipo aquário com um “Nemo” a boiar e, claro, a engatar uma gaja qualquer gorda e feia. Fiquei na minha, ignorei-o.
Vamos por partes Sónia… Primeiro, essa bebida servida em aquários chama-se Gin, sabias querida? Segundo, tenta não faltar à caridade com esses comentários azedos sobre a miúda, tudo bem que ela pode não ter o teu estilo Sónia, mas não sejas má que te fica mal.
A Sónia prosseguiu:
- Passado para aí uma ou duas horas, estava eu a dançar a música do Jajão, quando ele me toca no braço e diz “Então jóia, estás muito gira hoje. Como tens andado?”. Pah, não lhe respondi, fiz de conta que não estava ali ninguém, ignorei-o mesmo. E ele agarrou-me no braço e perguntou “Ui, não falas comigo?”. – De facto Sónia, se ele te chama jóia, o melhor é ignorares, cheira-me que ele não tem quilates para te acompanhar. Quanto ao elogio, e não querendo menosprezar o teu estilo, cá para mim ele perdeu-se no teu vestido vertiginoso, afinal disseste que "ias com tudo".
- E tu? Mandaste-lhe um soco na tromba? – perguntou a nossa, sempre sensata, Nicole.
- Achas?! Não! Só lhe disse “Oh filho, tira bilhete que já vens tarde e a bicha é grande. E já agora, desampara-me a loja!” e fui para outro lado. – Auch! Muito bom Sónia, essa é digna de registar no livro “as melhores respostas de sempre para afastar melgas”. Coitado, Sónia essa deve ter doído! Ah, mas na próxima diz fila em vez de bicha, só para que não haja más interpretações.
- Txei, és a maior mana, és grande! – disse a Nicole em tom de orgulho.
- Depois nunca mais o vi, não sei se ele foi embora. Também, entretanto, conheci um gajo e estive a conversar com ele durante algum tempo, chama-se Daniel e é de Felgueiras. Viu que o meu sinal era verde e meteu conversa, o dele era amarelo. Trocámos número e temos falado por mensagem. – Sónia, Sónia, amarelo é para ter cuidado. Vai com calma e abre a pestana!
- Muito me contas. Mas então o outro boi não disse mais nada? – Nicole, controla a língua que não te fica bem dizeres essas coisas sobre o grande amor da tua amiga.
- Nem me digas nada… Estava a ir para casa e ele ligou-me, mas eu não atendi. E depois mandou-me uma mensagem a perguntar se não queria estar com ele e eu também não respondi. E o otário a seguir manda mensagem a dizer “Então, não me digas que o Benfica joga em casa, é?” – UH??? Hey, oh Sónia, larga-me esse gajo! A sério, gajos que falam da tua condição de mulher como se de futebol se tratasse merecem cartão vermelho, ficar no banco, merecem um grande chuto. Por favor, diz-me que o ignoraste!
- E tu mana, respondeste à altura? – perguntou a Nicole com uma ansiedade maior do que a minha.
- Peguei no telefone e liguei-lhe. Quando ele atendeu só lhe disse “Não, o Benfica não joga em casa. Neste campo só entram dragões, super dragões e tu não passas de um ratinho nojento e minúsculo, vê se cresces e deixa-me em paz! Vai à tua vidinha!”. E desliguei o telefone. – Boa Sónia, fenomenal. Até devias ter recomendado uns “danoninhos” a ver se cresce, tipo “falta-te um bocadinho para jogares nesta liga”.
 - Hey, que grande telenovela amiga! E o tal Daniel?
- Pois é para tu veres a minha sorte. O Dani diz coisas queridas, temos falado. Mas hoje de manhã não percebi muito bem a mensagem dele, disse “És uma querida, mereces um homem que te respeite e te dê valor. Mas tenho medo de não corresponder às tuas expectativas…”. – Dani?! Isso já vai assim?! Sónia, ouve o que eu te digo com a máxima atenção… Se ele falou de expectativas, parte imediatamente para outra, apaga o número, risca da lista, faz o que quiseres mas, acaba já com isso! A sério, acredita em mim Soninha, essa conversa das expectativas é o mesmo que dizer: “ah e tal, talvez eu não seja o que tu procuras” ou “talvez não estejamos na mesma frequência” ou “não te quero magoar” ou “não sei se te posso dar o que precisas”… E tantas outras frases fantásticas que significam que ele não quer nada contigo a não ser, talvez, uns “jogos de futebol” se é que me entendes! Ele já te está a pedir desculpa antecipadamente para quando te der um chuto daqui a uns tempos. Percebes Soninha? E no fim ainda te vai dizer “mas eu disse-te que talvez quiséssemos coisas diferentes” ou “pensei que estávamos na mesma sintonia” ou “o problema não és tu, sou eu” ou “mereces melhor do que eu”. Olha o que eu te digo, não te metas nesse filme e, lembra-te, o semáforo dele era amarelo. Amarelo! Além disso, não sei se sabes mas houve quem começasse a festejar o Carnaval no fim-de-semana, vê lá se ele não está fantasiado de “O Gajo Mais Querido do Mundo” ou “O Sapo Disfarçado”.
Run Sónia, run!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A Sónia e a Amiga IV

Hoje quando entrei no café lá estavam elas. Pela primeira vez, chegaram antes de mim e nem gosto de pensar no que terei perdido.
A Sónia deixou as bolas de berlim e passou para as natas (duas que o caso não é para menos). O estilo dela estava uma escandaleira. Alguém lhe deve ter dito “desabafa, deita cá pra fora” e a pobre deitou mesmo tudo cá para fora. Veio tudo ao de cima, uma “caixa de ar” capaz de fornecer oxigénio a todas as expedições de mergulho até 2020. – Oh Sónia se o Sr. Alfredo do talho te põe a vista em cima diz logo “Ah boa peitaça, vê-se logo que não é de aviário, carne de 1ª!”. Para além disso, de salientar umas argolas prateadas tão grandes, mas tão grandes que a Ana Malhoa sentir-se-ia uma menina ao pé da Soninha. E enquanto pensava “tem cuidado Sónia, fala pouco com as mãos, que ainda se te engata uma pulseira na argola e lá se vai argola, pulseira, orelha e tudo”, ela disse:
- Vi no “face” que ele adicionou uma gaja, tentei ver o perfil dela mas é privado. Podias adicioná-la para cuscarmos, ver se há alguma foto ou assim. Também vi que ele vai a uma festa no Sábado e eu, claro, vou também. – Estão a perceber de onde surgem aqueles pedidos de amizade de pessoas que não conhecemos de lado nenhum?! Sónia, não andarás tu a levar a linguagem do facebook e do instagram demasiado a sério? É que seguir não é perseguir, e nem é seguir a sério, sabias? Vai lá com calma miúda!
A Nicole, sensata que só ela, disse que nem pensar e sugeriu “Porque não crias um perfil falso, é mais fácil?! Eu tinha dois, mas já não me lembro da “pass”, que pena!”. – UH? Será que eu ouvi bem? Oh my goshhh… “It's the end of the world as we know it” and I don’t feel fine!
A Sónia achou que aquilo dava muito trabalho e declinou a ideia e retomou ao assunto da festa do Dia dos Namorados:
- Sabes como se chama a festa de Sábado? Festa do semáforo, as pessoas à entrada recebem uma cor… vermelho para comprometidos, verde para solteiros e amarelo para os assim-assim. Vai ser demais! Podias vir comigo! – Uiiii… E intermitente, não há? Tu devias ser um semáforo intermitente, Sónia. Passa toda a gente mas com cautela, com atenção às prioridades, percebes?! Bem, em todo o caso terás mais sorte com isso dos semáforos porque se fosse algum jogo do Stop, cheira-me que não te safavas!
A Nicole empolgou-se toda e disse que ia:
- Tou dentro! E roupa mana?
- Sei lá… Eu já escolhi o meu modelito, vou com alto vestido. – os olhos da Sónia até brilharam!
Sónia, muita calma nesta hora. Quase que adivinho que vais com um vestido ao estilo “deita cá pra fora”, não é? Eu acho que nem precisas dessa coisa do semáforo, vais parar o trânsito, oh Sónia! A Sónia, a “via rápida” do S. Valentim. Mas olha, deixa as purpurinas em casa desta vez, é que o Carnaval é só na Terça-feira e, já agora, leva na mente “passagem de nível” e não vendas o teu peixe todo, sim Soninha? Conselho de amiga!
Sónia, nem sei se tens carta ou não (talvez não seja boa ideia alinhares nestas festas sem estares devidamente habilitada), mas de qualquer forma desejo-te o melhor do mundo com um gin a acompanhar.
Se conduzires não bebas e, já sabes, atenção às prioridades e aos limites de velocidade. Não dês 120km/h dentro das localidades, estamos entendidas? Cuidado com os estacionamentos, ultrapassagens e manobras perigosas, se é que me entendes!
Go Sónia, a noite é tua!
Go Sónia, prego a fundo, estamos contigo neste dia!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Saudades Nenhumas

Saudades tuas?
Do tempo sem tempo,
Na melodia de notas soltas.
Saudades tuas?
Das promessas na mentira envoltas.
Meu amigo, eu bem tento,
Mas saudades tuas?
Sinceramente,
Não tenho nenhumas!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Encontrei a Sónia na baixa

Sexta-feira passada, depois de um belo jantar, estava num bar na baixa do Porto.
Verdade seja dita que nunca me passou pela cabeça encontrar a Sónia, não na baixa porque isso já há muito que esperava, mas naquele bar. Naquele bar nunca, sempre achei que não era o estilo dela.
Ao contrário da maior parte das vezes, estava de costas para a entrada, pelo que não pude usufruir da alegria de a ver entrar.
Estava de copo na mão a meio de uma bela conversa quando ouvi atrás de mim “Néstes, néstes, eu hoje tou com tudo” (presumo que néstes seja a forma mais efusiva da Sónia dizer não) – naquele momento só pensava naquela música “tu és pe pe pe pereré, és perigosa”, Sérgio Rossi, oiçam que percebem logo. Aquela voz soou tão familiar que eu nem queria acreditar no que me estava a acontecer, aliás, cheguei mesmo a ponderar se já teria bebido de mais.
Olho para trás, disfarçadamente por cima do ombro e… lá estava ela acompanhada de três elementos do sexo masculino, mas dada a forma como interagiam, nenhum deles me pareceu o tão famoso “Zé Manel”, penso que devia ser apenas um grupo de “manos” da nossa querida.
A Sónia estava discreta que só ela e, na primeira análise, até achei estranho. Jeans pretos com umas letras no bolso de trás, casaco de pêlo acrílico preto completamente apertado, uma bolsa de corrente metálica, batom vermelho não muito carregado, cabelo (em tom louro escuro, com raiz em tom preto, como já sabem) completamente esticado. Confesso, que este estilo até lhe conferia um ar mais crescido. E pensam vocês – caramba, assim tão normal? Desenganem-se! Até aqui tudo certo, mas eis que olho para os pés e todo o meu mundo parou (quer dizer, não sei se foi o mundo ou se terá sido mesmo o meu cérebro). Os sapatos da Sónia! Deus do Céu, os sapatos da Sónia, qual cinderela, qual quê, muito para lá do sapato de cristal (é hoje que a Soninha perde um sapato e encontra o príncipe). Realmente ela estava com tudo! Os sapatos da Sónia eram pretos, saltos altos bem finos, a parte dos calcanhares em verniz e a parte da frente que deixava ver o seu dedo grande do pé... txaran… purpurinas metalizadas. Sim, leram muito bem, completamente cobertos de purpurinas metalizadas, tão brilhantes que no início fiquei na dúvida se não se trataria de um qualquer efeito da bola de espelhos pendurada no tecto. Não, para mal dos meus olhos que quase cegaram com tanto brilho, era mesmo verdade!
Os amigos da Sónia eram morenos, todos com uma altura a rondar um 1,75m, apenas um era aloirado e estavam os três vestidos de escuro, de salientar apenas os seus penteados. Na Sexta, o gel foi o rei. Os cabelos dos “manos” eram autênticas esculturas de gel, dignas dos melhores museus de arte europeus e tão elevados que os faziam chegar aos 1,80 e tal. Sim, é mesmo verdade, as esculturas capilares tinham à vontadinha 10cm.
Mas, infelizmente, o nosso convívio nocturno durou pouco tempo. Depressa eles se cansaram de ali estar, segundo a Sónia “a música está uma merd@, ainda se desse a Bailando…”. E puseram-se em marcha de saída. Ao passarem por mim, tive a certeza que a Sónia me viu e fiquei muito triste porque nem um sorriso nem um olá. Bolas, no café ela não é assim comigo! Acho que deve ter sido aquela mania feminina de ver as outras fêmeas como concorrência, o inimigo a quem não se deve dar confiança e se possível ignorar, não vá algum dos amigos pedir para ser apresentado. Ou então terá pensado do alto das suas purpurinas de salto “toma, estou com três e tu… coitadinha”. Sónia saiu do bar.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

(R)evelação

E numa noite se arruinam 20 anos!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Ele

Hoje, quando acordei, ele disse:
- Escreve-me um poema, Raquel!
E eu fiquei parada,
Assim, como um rio que adormece,
Uma água estagnada.
Pois, tão cega, já não sabia,
Se poesia era ele quem me falava,
Os olhos e os gestos,
Ah, e tudo o que ele fazia!
Ou se era, afinal, em cada palavra, 
O poema mais profundo,
Que eu lhe escrevia.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A Sónia e a Amiga III

Fui ao afamado café, mas desta vez de olhos postos na porta para ver a chegada triunfal da nossa Soninha.
Estava vidrada no arco-íris gigante que estava no céu. E, por momentos, pensei que o arco-íris tinha abandonado o seu posto e estava a entrar café adentro. Mas não, não era ele, era ela, a Sónia. Camisola amarela, anoraque lilás, umas jeans com manchas brancas, ténis tipo bota em azulão. Lá vinha ela com a amiga, de telemóvel em riste, qual arma de fogo, qual quê (o telemóvel da Sónia tem brilhantes e coisas penduradas, uau!), com uns óculos pretos muito ao estilo Miss Rinchoa 2015. Vinha muito tapada desta vez (nem piercing, nem tatuagem, nem nada) pelo que presumi que as coisas, talvez, se tivessem encaminhado com o dito cujo, de maneira que ela já não andava naquela exibição de pele do costume.
Ainda não se tinham sentado e já ouvia a Nicole: “Oh pah, se continuas a faltar assim ao curso, o Prof. não te vai passar.”. A Sónia muito convicta respondeu: “Oh, achas?! Hoje era sobre internet e eu já domino aquilo, já tenho facebook há para aí uns 3 anos…”. – Uau Sónia, já tens facebook há 3 anos, pelo que já dominas a internet. Uau!!! Sónia, pois está claro que não precisas de saber mais nada. O que interessa é saberes fazer like e umas partilhas de frases em português do brasil, daquelas mesmo profundas. Ah, e deixa-me adivinhar, controlares essa coisa dos registos de leitura das mensagens, não é? Cheira-me que isso é coisa para saberes de trás para a frente.
Ela continuou: “Mas olha que o meu Prof. é todo bom e já o apanhei a deitar o olho aqui às margaridas, ele não me marca falta, sabe que ando com problemas.” – Não me digas que os problemas são o Zé Manel?! - A Nicole contrapôs: “Sim sim, fia-te na virgem e não corras. Não percebo, até te pagam e tu faltas ao curso, és a maior.”.
A Sónia marimbou-se para aquela conversa da treta e mergulhou nos seus problemas, aqueles que a têm vindo a atormentar (a ela e a mim, que nem tenho dormido a pensar nesta história).
- O fofo mandou-me uma mensagem ontem, a sério, super querido! Mas nem percebi o que ele quis dizer, vou ler para ver se tu entendes, é que eu já desisti: “Olá! Pequenina, desculpa não ter respondido antes mas tenho andado cheio de trabalho. Andei pela baixa a ver se te via no Sábado… Quanto à tua mensagem, infelizmente não tive saudades tuas, mas senti muito a tua falta!!!! Beijo”. Ah, e na última frase, quando disse que sentiu muito a minha falta meteu quatro pontos de exclamação, é assim que se diz, não é? Aqueles que são um “i” ao contrário, com a pintinha em baixo.
Diz a Nicole, batendo na testa: “Ya, sim são pontos de exclamação, oh tança! Não sabes isso? Dá-se na 1ª classe!”. Depois, franzindo o sobrolho e contorcendo os lábios, numa expressão de quem se perdeu na frequência continuou: “Olha se queres que te diga, não percebi o que ele disse. É que tipo, sentir falta e sentir saudades não é a mesma coisa? Eu acho que é! Esse gajo é bué estranho, dasss!” – E este “dass” que me causou tanta urticária que me ia engasgando com o café.
Sónia, minha querida, tu é que me saíste um “i” ao contrário. A ver se nos entendemos, ele não meteu nada Sónia (eu sei que talvez gostasses que ele metesse qualquer coisa), mas ele não “meteu” ponto nenhum, ele escreveu. Meter, como já deves ter experimentado, é a 3 dimensões. Percebeste?! Quanto ao conteúdo… Essa da baixa é de mestre, então não é que ele, coitado, de tão ocupado que anda nem tempo tem para te responder. Mas quando tem tempo (lembra-se logo de ti), não te responde, vai só ali à baixa ver se te vê! Querido que só ele, imaginou surpreender-te, aparecer de repente e dar-te um abraço em plena baixa – que romântico! E abrires a pestana, Sónia? Sabes Soninha, ter saudades e sentir falta não é exactamente a mesma coisa. A ver se te explico… Ele sentiu a tua falta, estás a ver aquela cena do Harry Potter da semana passada? Pronto, o pobre sentiu a tua falta (Yeahhhh, desempenhaste bem o papel, qualquer aprendiz de feitiçaria é um menino ao pé de ti que tu dominas bem a varinha mágica, e não é aquela que passa os legumes da sopinha)! Mas não teve saudades, a saudade é mais profunda, Sónia. Na saudade há um vazio, uma ausência definitiva ou longa, uma nostalgia que nos reporta a cenas passadas (quer dizer, a falta que ele sentiu também o deve ter reportado a cenas passadas, aposto as minhas mãos em como lhe passou pela mente, assim em loop, a vossa sessão de cinema), há até uma certa tristeza. E verdade seja dita, ele não tem tempo para ter saudade, pois que lhe entopes o telemóvel de mensagens. Vou explicar-te melhor… Estás a ver quando sais do ginásio a pingar, começas a sentir falta de um banho, mas não tens propriamente saudades de tomar banho. Do you know what I mean?!
Naquele momento, estava tão absorvida pela cena que penso que devia estar a olhar fixamente para as nossas ilustres amigas. Isto porque, nesse momento a Sónia olhou na minha direcção, encolheu os ombros e disse “Os gajos são uns bichos estranhos, não são?”. Olhei para trás só para ver se ela não estaria a falar com outra pessoa, estão a ver a cena? Mas não, era mesmo comigo… Oh My God, a Sónia falou comigo… Oh My God, e agora? Respondo? Devia ter ouvido mais os conselhos da minha mãe – “Não se deve ouvir as conversas dos outros! Não se deve olhar fixamente para as outras pessoas…!”. E neste momento, sorri para a Sónia como que assentindo (sim, minha amiga, é melhor que arranjes um cão, dizem que são menos complicados e ainda te lambem as lágrimas) e abandonei o café. Não sei se por vergonha de ter sido apanhada a ouvir a conversa alheia ou se por medo de que a Sónia me veja como uma possível amiga ou conselheira… a ver vamos!
Sónia, nada contra ti, tudo a favor!
Continuo contigo nesta luta!