terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A Sónia e a Amiga III

Fui ao afamado café, mas desta vez de olhos postos na porta para ver a chegada triunfal da nossa Soninha.
Estava vidrada no arco-íris gigante que estava no céu. E, por momentos, pensei que o arco-íris tinha abandonado o seu posto e estava a entrar café adentro. Mas não, não era ele, era ela, a Sónia. Camisola amarela, anoraque lilás, umas jeans com manchas brancas, ténis tipo bota em azulão. Lá vinha ela com a amiga, de telemóvel em riste, qual arma de fogo, qual quê (o telemóvel da Sónia tem brilhantes e coisas penduradas, uau!), com uns óculos pretos muito ao estilo Miss Rinchoa 2015. Vinha muito tapada desta vez (nem piercing, nem tatuagem, nem nada) pelo que presumi que as coisas, talvez, se tivessem encaminhado com o dito cujo, de maneira que ela já não andava naquela exibição de pele do costume.
Ainda não se tinham sentado e já ouvia a Nicole: “Oh pah, se continuas a faltar assim ao curso, o Prof. não te vai passar.”. A Sónia muito convicta respondeu: “Oh, achas?! Hoje era sobre internet e eu já domino aquilo, já tenho facebook há para aí uns 3 anos…”. – Uau Sónia, já tens facebook há 3 anos, pelo que já dominas a internet. Uau!!! Sónia, pois está claro que não precisas de saber mais nada. O que interessa é saberes fazer like e umas partilhas de frases em português do brasil, daquelas mesmo profundas. Ah, e deixa-me adivinhar, controlares essa coisa dos registos de leitura das mensagens, não é? Cheira-me que isso é coisa para saberes de trás para a frente.
Ela continuou: “Mas olha que o meu Prof. é todo bom e já o apanhei a deitar o olho aqui às margaridas, ele não me marca falta, sabe que ando com problemas.” – Não me digas que os problemas são o Zé Manel?! - A Nicole contrapôs: “Sim sim, fia-te na virgem e não corras. Não percebo, até te pagam e tu faltas ao curso, és a maior.”.
A Sónia marimbou-se para aquela conversa da treta e mergulhou nos seus problemas, aqueles que a têm vindo a atormentar (a ela e a mim, que nem tenho dormido a pensar nesta história).
- O fofo mandou-me uma mensagem ontem, a sério, super querido! Mas nem percebi o que ele quis dizer, vou ler para ver se tu entendes, é que eu já desisti: “Olá! Pequenina, desculpa não ter respondido antes mas tenho andado cheio de trabalho. Andei pela baixa a ver se te via no Sábado… Quanto à tua mensagem, infelizmente não tive saudades tuas, mas senti muito a tua falta!!!! Beijo”. Ah, e na última frase, quando disse que sentiu muito a minha falta meteu quatro pontos de exclamação, é assim que se diz, não é? Aqueles que são um “i” ao contrário, com a pintinha em baixo.
Diz a Nicole, batendo na testa: “Ya, sim são pontos de exclamação, oh tança! Não sabes isso? Dá-se na 1ª classe!”. Depois, franzindo o sobrolho e contorcendo os lábios, numa expressão de quem se perdeu na frequência continuou: “Olha se queres que te diga, não percebi o que ele disse. É que tipo, sentir falta e sentir saudades não é a mesma coisa? Eu acho que é! Esse gajo é bué estranho, dasss!” – E este “dass” que me causou tanta urticária que me ia engasgando com o café.
Sónia, minha querida, tu é que me saíste um “i” ao contrário. A ver se nos entendemos, ele não meteu nada Sónia (eu sei que talvez gostasses que ele metesse qualquer coisa), mas ele não “meteu” ponto nenhum, ele escreveu. Meter, como já deves ter experimentado, é a 3 dimensões. Percebeste?! Quanto ao conteúdo… Essa da baixa é de mestre, então não é que ele, coitado, de tão ocupado que anda nem tempo tem para te responder. Mas quando tem tempo (lembra-se logo de ti), não te responde, vai só ali à baixa ver se te vê! Querido que só ele, imaginou surpreender-te, aparecer de repente e dar-te um abraço em plena baixa – que romântico! E abrires a pestana, Sónia? Sabes Soninha, ter saudades e sentir falta não é exactamente a mesma coisa. A ver se te explico… Ele sentiu a tua falta, estás a ver aquela cena do Harry Potter da semana passada? Pronto, o pobre sentiu a tua falta (Yeahhhh, desempenhaste bem o papel, qualquer aprendiz de feitiçaria é um menino ao pé de ti que tu dominas bem a varinha mágica, e não é aquela que passa os legumes da sopinha)! Mas não teve saudades, a saudade é mais profunda, Sónia. Na saudade há um vazio, uma ausência definitiva ou longa, uma nostalgia que nos reporta a cenas passadas (quer dizer, a falta que ele sentiu também o deve ter reportado a cenas passadas, aposto as minhas mãos em como lhe passou pela mente, assim em loop, a vossa sessão de cinema), há até uma certa tristeza. E verdade seja dita, ele não tem tempo para ter saudade, pois que lhe entopes o telemóvel de mensagens. Vou explicar-te melhor… Estás a ver quando sais do ginásio a pingar, começas a sentir falta de um banho, mas não tens propriamente saudades de tomar banho. Do you know what I mean?!
Naquele momento, estava tão absorvida pela cena que penso que devia estar a olhar fixamente para as nossas ilustres amigas. Isto porque, nesse momento a Sónia olhou na minha direcção, encolheu os ombros e disse “Os gajos são uns bichos estranhos, não são?”. Olhei para trás só para ver se ela não estaria a falar com outra pessoa, estão a ver a cena? Mas não, era mesmo comigo… Oh My God, a Sónia falou comigo… Oh My God, e agora? Respondo? Devia ter ouvido mais os conselhos da minha mãe – “Não se deve ouvir as conversas dos outros! Não se deve olhar fixamente para as outras pessoas…!”. E neste momento, sorri para a Sónia como que assentindo (sim, minha amiga, é melhor que arranjes um cão, dizem que são menos complicados e ainda te lambem as lágrimas) e abandonei o café. Não sei se por vergonha de ter sido apanhada a ouvir a conversa alheia ou se por medo de que a Sónia me veja como uma possível amiga ou conselheira… a ver vamos!
Sónia, nada contra ti, tudo a favor!
Continuo contigo nesta luta!

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