quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Recomeça

O mundo continua a ser o mundo.
Essa espada não trespassa o tempo.
Não vêm milagres da tua mão.
Há cansaço e não nascem frutos neste chão.
Segue pela estrada nova que te surge.
Já não importa que as nuvens choquem.
Ou que o teu caminho, com o dele, não se cruze.
Se tiver que ser, que se enlameie o coração.
Se possível, que não haja pressa que mate a vontade.
Acalma a alma no mar da verdade.
Alteia a bandeira do triunfo, esse e só esse,
Que se banha na aragem do voltar a começar.
Porque o mundo, não te esqueças, continua a ser o mundo!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Iguais

Vejo olhares carregados de misericórdia.
São penas extrapoladas de verdades nada familiares.
Não são só desconhecidos nas suas vidas.
Entram nas realidades alheias por ínfimos momentos.
Vistos de cima somos todos tão iguais.
Patéticos, apalhaçados, descontrolados, animais.
Somos tão comoventemente vazios.
Almas pálidas e corpos impregnados de lixo.
Tornamo-nos destroços do que fazemos uns com os outros.
Deambulamos nesta sobrevivência de predadores e vítimas.
Uma espécie de vampiros acomodados nos seus interesses.
Cheira a tristezas escondidas em danças de exibição.
Montras de sorrisos construídos de plástico e enfeitados de falso.
Réplicas destorcidas.
Queremos parecer perfeitos, escrupulosamente interessantes.
Falho sempre neste passo, já não me debato.
Prego os olhos no tecto e balanço ao som da bebida.
Quero sair daqui e cansar a loucura ao descer a rua.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Fim

Não sei onde dói, nem sei se dor é o que sinto.
Descubro que o caminho é longo.
E a espera cansa a alma e espanta a calma.
Sinto qualquer coisa que desconheço.
Dor não será por certo, mas magoa-se cá dentro.
Falta o ar como se o pescoço se apertasse numa angústia lenta.
O brilho morre-se na mão que se esfarela na porta.
O bater já quase não se ouve, não entro.
O espírito morre à míngua por um amor que não há.
E se o único alimento é esse que me falta,
E se morro numa fome que mata,
Como posso viver?
Faço pactos com a morte que não tarda.
Dou-lhe o braço, deito-me no seu regaço.
Faço pedidos e proponho trocas.
A única missão desejada é a que fica por cumprir.
O que importa?
Até o mais fiel desacatará um dia o prometido.
E não há nobreza maior que o perdão.
O começo é sempre o mais brindado e luminoso.
Agora, concedo-te fim o orgulho e a importância de seres a única lembrança.
Cumpre-se o desejo aflito num silêncio de serenidade.