quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Poesia

Contigo bebo do mais belo, que me eriça a pele.
És, de todas, a melhor companhia e outro par não quero.
Fazes-me voar e ver tudo com outra cor, com outro sentido.
Sempre que a ti me entrego, nasço de novo e me descubro.
Tu que não dominas as artimanhas nem os artifícios da sedução.
Mesmo assim me conquistas e desvendas os meus enigmas.
Tu que falas da verdade e da mentira e as misturas a teu gosto.
Ainda assim, és-me tão leal, de uma exactidão deveras fiel à realidade.
Só contigo me elevo e desprendo desta terra de matéria suja.
Tu sentes por mim, tu falas-me pelas mãos, pelos olhos, pela alma.
É amor, isto que sinto, amo-te como quem ama o grande amor.
É com orgulho que te faço parte mim, que me acompanhas sempre.
Quem mais senão tu atravessa os meus desterros emocionais.
És só tu quem me sustenta na falta, no deserto, na sede de sentir.
Tu abraças todas as distâncias, tu dás-me a mão quando me perco nos excessos.
Tens o dom de transformar toda a ânsia em calma, tu tens a sábia magia.
És o astro onde habito, és a luz que inspira o mundo.
És o regaço onde me escondo, muito mais do que um porto seguro.
Se para mim és tanto, de nada mais preciso.
Nomeio-te a eterna maravilha, digna de todo o culto e ímpar respeito.
Perante ti me ajoelho e pasmo, tu… o malmequer da vida.
Tu, só tu Poesia, minha e de toda a gente!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Não há pachorra

Não há pachorra para melancolias e embalos.
É já manhã e ouve-se o cantar dos galos.
Se não quiseste ficar, por certo não abraçaste.
Morre-se na ausência a chama que reclamaste.
Ah! Esta visão de cama vazia, de um tempo só.
Onde os desejos da noite se embebedam de pó.
Não há pachorra para grandes pedidos teatrais.
As promessas são sempre tão sujas, tão irreais.
E é nesta falsa leviandade que me escudo.
Tentando adormecer este corpo agora mudo.
Não há pachorra para espalhar mais lágrimas.
Que murchem os pensamentos e as lástimas.
Pela janela aberta vejo partir a dor, o lamento.
Que o melhor destino é deixá-los ir no vento.
Ah…! E já disse, não há pachorra!

Só Assim

Quero a paz que os teus olhos prometeram.
Todo o céu que eram os teus braços.
Preciso que tragas de volta a estima.
Na plenitude de todas as suas formas.
Quero a verdade que a tua boca proferiu.
Sem pausas nem exclamações de dúvida.
Não quero deitar-me em mentiras aveludadas.
Recosto a cabeça na areia.
O mar diz-me que a calma quer deitar-se comigo.
Aceito essa companhia que serena a espera.
Preciso que a esperança se afirme e inunde a raiva.
Desprezo todo o alarde das nostalgias da ilusão.
E toda a insolência das penitências em que mergulhei.
Quero que deixes de ser um reflexo da imaginação.
Aconchego-me na areia…
Descubro que quero amor inteiro, primitivo.
De antigo que seja só esta intensa simplicidade de amar.
Isso de carregar uma cruz é antiquado, cheira a mofo.
Quero-te completo e despido de falso.
Descubro que só te quero assim.
E que de outro modo não preciso.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Jardim das Virtudes

Venho cá de vez em quando
Vejo um rio correr pró mar
Uma neblina vai-se formando
Abre-se o peito numa aragem
E desvendo as virtudes do amar

Ao longe vejo a ponte, o luar
Deixo-me ficar neste jardim
No escuro oiço o Douro respirar
Banho o coração nesta paisagem
Embalada numa noite sem fim

Benditos os recantos da cidade
Os bancos de pedra gastos e sós
São lugares que acalmam a ansiedade
No silêncio passam-nos a mensagem
Desatam-se cá dentro todos os nós

Com muita paz e grande calma
Neste lugar sereno, me deixo dormir
Jazem aqui os pesos da minha alma
E assim cá me fortaleço da coragem
De partir em busca de um novo sentir

Tentar de Novo

Pede-me verdades infinitas.
Pede-me a lealdade eterna.
Pede-me promessas ditas.
Pede-me a minha mão terna.

Exige um apaixonante motim,
Disso terás um majestoso confim!

Rouba-me o inquietante medo.
Rouba-me a pesada solidão.
Rouba-me o escuro degredo.
Rouba-me a eterna negação.

Exijo um sentimento carmim,
Disso há em mim um sem fim!

Dou-te a minha alma aberta.
Dou-te um céu de desvelo.
Dou-te a sublime descoberta.
Dou-te o meu corpo estrelo.

Implora-me o espinhoso perdão,
Desejo em mim a tua absolvição,
Em espera arde o meu coração,
Numa já longa e letal aflição!



 in "Ousadia de Sentir"