segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Fingir

Vou fingir...
Que o silêncio não é incómodo,
E da distância,
Vou fingir que não me importo.
Mas lembra-te,
O que tanto se finge no início,
Como um precipício,
Será impossível de ocultar no fim.
Quando, sem fingir, te direi:
-Não te quero mais!
Tu não sabes, bem sei,
Mas querer tão pouco assim,
É fingir demais,
E isso não é coisa para mim.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Lembrar

Nada passa por mim,
Tudo fica,
O que vejo, o que toco.
Porque o que passa, não se abraça,
E se não fica, não teve graça.
Em mim, tudo fica...
Que o melhor da vida é não esquecer.
Assim, como se enganasse a morte,
Como se prolongasse um sentimento que escorre,
Como se a vida não tivesse fim.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Não Importa

É verdade que eu nunca te escrevi.
E se tantas vezes tentei,
Nunca te disse nada do que senti.
- Oh homem como te amei!
E agora esta vontade louca de o gritar,
Mas o que importa isso agora,
Se não tenho forças para te abraçar,
Tudo acabou e já foste embora.
Oh meu amor,
O que para nós tinha sonhado,
É agora ruído, mera dor.
E ainda que tivesse falado,
Ao ver-te ao longe, tão distante,
Tenho a certeza,
Que por muito que tivesse dito,
Digo agora com tristeza,
Nunca teria sido bastante.
Ah amor, eu repito,
Se em poemas não te soube amar,
Não será com palavras que te vou odiar.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Há gavetas que não se devem abrir.
Melhor que se guarde o passado,
No armário do fundo, bem arrumado.
Porque é impossível ver o presente,
Continuar ou seguir em frente,
Teimando em viver a olhar para trás.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Enlouquecida

A primeira palavra é o que me custa.
Depois disso todo o texto corre.
E, como ele,
Tudo o que se esconde em mim,
Pelas páginas abertas escorre,
Em chamas,
Do princípio ao fim.
Numa cadência sedenta de gritar,
Abrem-se mundos, correm astros.
E confesso, pela fantasia,
Posso voar ou andar de rastros.
Tão cega, decerto, já tão enlouquecida.
Escrevo sempre a mesma coisa,
É sempre mesma história já tão lida.
O mesmo papel que não tem graça.
Mas a fúria não passa,
Escreva isto e mais aquilo,
Faça eu o que quer que faça.