quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Se nos deram os sentidos...

Deram-nos os olhos para vermos, vermos longe e alargarmos as fronteiras do pensamento.
E tantos confundem ver com mirar-se, presos à sua auto-valorização cega.
Não há maior cego que aquele que vê só numa direcção, a sua própria sombra.
São estas as mentes mais vazias, as mentes que vivem cheias de si, transbordam de si, transpiram-se.
Deram-nos os olhos para admirarmos o mundo e as pessoas, para admirarmos o belo, o menos bonito, o simples e tudo e tudo.
E tantos confundem contemplar com possuir e veneram até à exaustão, absorvem, esgotam, matam e condenam ao abismo do desconhecido.
São os mesmos que têm pernas e não caminham.
E se caminhos seguem, seguem por aqueles já trilhados por alguém que tão pouco conhecem e nem pretendem conhecer.
Caminhar é um cansaço.
São os mesmos que têm pernas e preferem rastejar, são os que não se elevam e andam de rasto na vida e nas ideias mais mesquinhas e baixas.
São os mesmos que se arrastam e seguem pegadas de solidão.
Esses que têm mãos e não agarram, ao invés largam-se e desprendem-se, principalmente dos laços.
Os que não estendem a mão e se o fazem, fazem-no tantas vezes por compaixão, por obrigação moral, mascarados socialmente fantasiosos.
Se nos deram as mãos foi para agarrarmos e nós vemos e não alcançamos.
Deram-nos coração para sentir e nós uns obstinados, fechados na sensibilidade da razão.
A razão não dói mas, o coração também não.
Usemos o coração na sua mais brilhante condição funcional, a função do sentir.
A razão é para imaginar e reflectir, o coração devia ser para amar.
O amor é para dar, receber, partir e repartir, o amor não é para guardar, muito menos para julgar.
Rasguem-se os peitos, abram-se as mentes, abracem-se as distâncias.
Essas mentes que não escolhem, mentes que se encolhem, esses corações murchos e secos, essas mãos frias de não se abraçarem, os rumos que não construímos e os muros de apatia que erguemos.
Podemos ser reféns das pernas que não andam, das mãos que não se fecham para segurar, dos olhos que olham sem ver, dos corações que batem mas não sentem, das bocas que falam e nada dizem, do nariz que não retém o aroma e só se intromete.
Porém, na nossa cabeça e no nosso coração seremos sempre quem quisermos, e só nessa liberdade poderemos chegar à plenitude de todos os sentidos!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sonhar é Possível

O impossível é tão-somente algo que representa e espelha o nosso quase inexistente ânimo.
E é tão fácil crer no irrealizável, que desculpa tão ali à mão, tão razoavelmente acessível.
Cada recusa nossa, cada submissão, cada nunca, todos os jamais e uns quantos em tempo algum serão irremediavel e mediocremente um passo adentro no desprezível remate que teimamos abraçar como incontornável desígnio da vida.
Vamos rasgar um a um, cada óbito de cada sonho.
Vamos viver todos os desejos mesmo que nos olhem com aqueles olhos descrentes ou nos julguem dementes e excessivamente incautos.
Só nós poderemos cuidar das nossas fantasias e são estas que nos dão o sentido de quem somos e o rumo que procuramos, são as fantasias que nos destinguem.
Que cada um cuide das suas!
Pois não há maior imprudência do que nos desfazermos das nossas vontades mais profundas e mais fiéis à alma.
Chega de remendos, chega de colagens que não disfarçam nem as mais discretas e leves frustrações.
Chega de fórmulas mágicas para a felicidade, quebrem-se todos os códigos secretos das utopias.
Desejar o impossível não é crime e eu oponho-me ferozmente a aceitar meia-felicidade, meia-verdade, meio-sonho… meio-tudo ou meio-nada.
Não há erro maior do que nos fazerem crer desde sempre, desde o ínício, que sonhar é dar voz ao irreal.
Ardam as privações, pois que só assim os caminhos se encurtam e os momentos largam as suas capas pesadas de oportunidades desperdiçadas.
Sonhar com o possivelmente impossível, ou ao contrário se preferirem, é fazer a vida valer a pena, porque a vida vale por cada sonho que vivemos e não menos do que isso!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Esperar por ti?

É um nojo tropeçar numa jura largada ao vento, num regresso que não acontece.
Bem sabes o que me custa não cumprir com honra o prometido.
Falho tantas vezes!
Não posso esperar por ti…
O que seria se demorasses toda a vida na volta?!
Que perigo seria admitir que nada perco em te esperar.
Teste? Resistência? Prova?
Quem precisa de provas, sacrifícios exaltados, pactos de sangue?
O amor não é isso. É?!
A desilusão é a melhor amiga da espera pela data marcada, da ânsia pelo final feliz e encantado.
E eu peço sempre demais, exijo demais, amo demais… espero demais.
O final feliz é a cada instante em que queiras estar comigo.
Não te vou esperar…
O tempo pode pregar-nos uma emboscada. Sabias?
Se eu não aparecer? Se não voltares?
Ah, arrepender! Que dano irreparável.
O arrependimento é dos sentimentos mais pestilentos, é sempre demasiado fétido!
Não posso corromper o amor com esperas inúteis.
Não posso corromper a vida com contrições e penas vãs.
Pedires-me que suspenda o amor para aguardar a tua chegada, é um terror bem mais negro do que pedir-te que não vás!
E eu não peço!
Mas, asseguro-te que amor é aqui, é agora!
Vai!
E nem ouses olhar para trás, o que fica é nada quando comparado com o que poderás ter!
Ninguém pode prender-se ao incompleto, não permito que o faças.
O mais penoso é ter consciência de que por instantes quase me traio e me julgo capaz de esperar uma vida inteira e uma próxima, quem sabe!
Supor que seria capaz é motivo bastante para que não me queiras… não ames alguém que te põe acima de si própria.
Vai!
Nunca te contentes com metade de alguém e, sobretudo, nunca esperes pelo amor… mas sim vive-o a cada segundo de vida!

Esperar por ti seria a maior traição!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Dane-se!

Não é nenhum tipo de insegurança camuflada de orgulho.
Não tenho que provar a minha determinação a ninguém.
É somente cansaço…
Danem-se os verbos tentar, lutar e outros que tais!
Dane-se a paciência.
Não posso resignar-me a uma coisa-pouca.
A única resignação a que me permito é a de que não vale a pena esperar...
Quantos me percebem?!
Que se danem os que não percebem!
Falta-me tanto… tenho que procurar o tanto que me falta.
Não posso ficar à espera, não posso adiar mais para o ano que vem.
Esse ano nunca vem se ficar aqui…
Desisto de ti… quero a felicidade!
Continuar é condenar-me ao fracasso emocional…
Tantas vezes te disse que preciso de ousadias, de ostentações teatrais, de promessas, de juras eternas…
Eu disse-te que precisava de palavras, de toques, de mãos e olhos brilhantes.
Deste-me silêncios vazios.
Falta-me a vontade… mastaste-a sempre em todas as vezes.
Não te censuro… não… !
Mas, já te disse, gostar às vezes é tão básico, é tão superficial.
Preferia que me quisesses matar… sim, matar!
Isso revelaria pelo menos alguma atitude.
Estás instalado no amor pelas notas.
Dane-se!
Desisto de nós… invisto no amor!
Desistir não é nenhum fracasso…
Danem-se os fracassos, os medos e o sufoco de não amar!
Reconhecer agora a necessidade de desistir é já uma vitória!