quarta-feira, 13 de abril de 2011

Prefiro facadas de nãos redondos e pesados,
Que ilusões rotas e, deveras, camufladas de verdade.
Prefiro momentos desesperadamente vazios e solitários,
Que estados cheios, no fundo, de nada.
Se o sonho é velho cadáver já,
Posso esquecer, rasgar tudo e dormir.
Fecham-se em mim alegrias pouco lúcidas,
Porque me deito agora com visões reais,
Que se cravaram no corpo de tão recusadas.
E adormeço perdida em axiomas e verdades nulas,
Numa encruzilhada de tropeços e tralhas do sentir.
Se acordar… enfim, que veja tudo menos turvo e dissimulado,
E chagas saradas num perfeito lance de alinhamento e esplendor!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Coração que não desiste!

O coração encolheu-se, aninhou-se dentro do peito num gesto de cansaço.
Acabrunhado como um papel inutilizado que se amachuca e se amontoa no lixo.
Abraçou-se a si próprio num aperto doloroso de quem se parte.
Roto nas suas emendas gastas.
Incontrolavelmente aberto em ferida, este coração que não me segue.
Mesmo assim o quero, sem razões o quero.
Porque sente, porque me escuda, porque sofre por mim e me recompõe.
O coração gritou, torceu-se, revirou-se e senti-o agonizar naquela dor.
Dor de desilusão, dor de quem correu pelo nada.
Corri para ti a meio da noite e quando cheguei ninguém me esperava.
E fui descalça ao teu encontro, num ímpeto desgraçado.
A casa estava vazia, como este coração agora despejado.
E se a alma não verteu lágrimas, o coração murchou em choro.
O coração não dói, dizem eles.
E eu digo que eles não sentem, que se sentissem saberiam do que falo.
E eu falo do perigo das viagens do amor dentro de mim.
Sossega que não te censuro, deixo isso para os que mentem e falam sem sentir.
Ah, malditos e pegajosos corações ásperos e desacreditados!
O meu coração está só num baloiço de corda atado em nó na garganta…
Mas, mesmo embrulhado em ânsias não se resigna nem desiste!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Pra onde quer que me volte

Por muito que me revolte
Seres somente uma miragem
Pra onde quer que me volte
Vejo sempre a tua imagem


Imagem que me enlouquece
Como um louco no deserto
Que do nada me aparece
E tão distante és tão perto

Vejo-te envolta em poeira
Ou transparente cristal
E a loucura é mais inteira
O sonho quase real

Por muito que me revolte
Seres somente uma miragem
Pra onde quer que me volte
Vejo sempre a tua imagem

António Zambujo