Continuei o plano do ano anterior - tenho um longo caminho nessa tarefa de perceber se faço por acontecer o que realmente quero e sonho.
Percebi (e demorei muito tempo) que temos que abrir mão de
algumas pessoas para sermos mais leves e estarmos bem.
Sinto que estive pouco com os meus amigos amados, em boa
parte por culpa minha – e a culpa é tramada na minha cabeça, desassossega e
deixa-me frustrada.
Arreliei-me com várias pessoas e situações parvas, mas consegui
manifestar, das mais variadas formas, a minha opinião – aprendi que calar mói!
Voltei a um lugar que me fez (que ainda faz) feliz,
embebedei-me fortemente, chorei, dancei e quase que senti que estava tudo no
sítio como se os anos não tivessem passado por mim, pelos meus, pelos lugares...
Não fiz a viagem e resignei-me.
Não me senti velha mas senti-me crescida, finalmente
senti-me adulta.
Não sei se me tornei mais ansiosa, mas achei que o tempo
voa. E sem querer entrar em chavões, em verdade vos digo, que o tempo passa
muito rápido, embora acredite, para o bem e para o mal, que o tempo é (quase
sempre) generoso.
Fui mais prática e menos poética – não tem graça nenhuma!
Não tive medo de morrer mas tive muito medo que alguém me
morresse, e tive ainda mais medo de que alguma coisa aconteça à minha Carlota
sem que eu consiga fazer nada para o impedir – acho que vou ter que aprender a
viver com isso.
E por falar em Carlota – meu amor, minha vida – senti-me
orgulhosa, de coração cheio. Não tenho dúvidas que a vida começou naquela manhã
de Setembro em que me tornei mãe, passei a ser tantas mulheres numa só – Carlô,
a vida não chega para o amor que te tenho, minha bicha sarrafeira que me
ensinas tanto!
Fartei-me de fazer bolos e sobremesas – continuo a sentir
que cozinhar para os outros é um acto de amor.
Mais do que no ano passado, arruinei o plafond do meu seguro
de saúde, fui definitivamente mais vezes à farmácia do que ao restaurante (isto
é triste) e pensei muitas vezes em doenças – maldita hipocondria, maldita
genética, maldito cancro!
Revisitei lugares que amo e que farão, para sempre, parte de
mim e do que sou.
Senti falta de viajar com a minha irmã – Inês, podemos mudar
isso este ano, vamos ao Brasil?!
Pedi ajuda, eu—pedi—ajuda várias vezes, a várias
pessoas, para várias coisas. É verdade! - Isto para uma pessoa que tenta fazer
tudo sozinha é um passo enorme.
Pensei no passado, nas saudades e deprimi-me com o facto de
que num instante, tanto passa para o plano das memórias – bem, pelo menos essas
nada nem ninguém nos rouba!
Falei muito dos meus avós e de como gostava de poder
deitar-me no colo da minha avozinha e de lhe falar de mim e dos pequenos.
Colo?! Tive tanto colo e dei também e isso é muito bom.
Numa tarde de sol, perdida em pensamentos na aldeia a olhar
para uma borboleta branca, senti o meu querido Pedro ali. – a vida é mais
pequena sem ti, Peter, my love!
Disse, com todas as letras, a todas as pessoas que amo que
as amo, e aceitei que algumas pessoas o dizem por gestos, algumas vezes subtis
e não está mal – há que abraçar!
Bati-me contra a má educação e percebi que há pessoas que vivem
em ira. – I rest my case!
Dei segundas oportunidades a mim e aos outros mas, confesso,
é difícil arrumar o desencanto e tentar com o mesmo entusiasmo inicial – meus
caros, perdoar e tentar tem muito que se lhe diga, é preciso ginástica
emocional!
Não tive dúvidas que “não há passos divergentes para quem se
quer encontrar”, sabendo que é preciso bater com a cabeça, raspar joelhos,
fugir das sombras e fazer ouvidos moucos a quem teima em dar palpites.
Aprendi que não podemos cobrar aos outros que sejam o que
esperamos se o que esperamos é o oposto do que são – afinal, o amor é aceitar
as diferenças, certo?!
Dei muitas gargalhadas profundas, chorei menos (quase sempre
de nervos e não de tristeza).
Sonhei muito acordada e desejei um sem fim de coisas,
algumas impossíveis, talvez! Mas como dizia o Poeta, “Porque eu desejo
impossivelmente o possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...”.
Viajei pouquíssimo mas, na verdade, viajei muito
emocionalmente e se isso não conta para nos enriquecer, então não entendo nada.
Senti-me rica de amor, de família e de amigos! Senti-me
grata e privilegiada!
Bebi whiskey algumas vezes e, pode parecer estranho mas isto
foi um reencontro comigo. – Sim, eu sei, tenho problemas variados ao nível
cabeça!
Abracei pessoas e desafios, sendo que o maior foi, sem
dúvida, ser feliz com consciência – sou perita em ser feliz e nem saber. Ah,
dei beijos, muitos beijos – já todos sabem que gosto de beijos e abraços (e de
whiskey).
Tentei ajudar, da forma mais discreta quando não solicitada,
e dei conselhos.
Fui feliz em Itália – obrigada Pedro!
Reencontrei amigos antigos, mesmo antigos e fiquei feliz.
Tive sede de música, de pintura e de poesia – a vida sem
isto é muito insossa.
Comi muito chocolate e andei o tempo todo a lamentar-me.
Dentro de toda a pressa, acho que vivi tranquilamente, com
menos sobressalto – tive aquela sensação, típica de quem é dramático, de que não se
passou nada porque houve menos “ruído” quando, afinal, isso é que é viver.
Apreciei o sol e o mar - não há nada que se compare à pele salgada
e a um grande mergulho - aquela fracção de segundo em que não existe nada se
não o nosso corpo a entrar na água.
Trilhei caminho novo sem nunca, mas nunca, adiar o amor por
que o amor é urgente, e não sendo a cura, é sempre a nossa salvação!