domingo, 28 de novembro de 2010

A tua praia

Espero-te…
Sonho-te…
Desejo-te…
Suplico-te que venhas!
Vem deitar-te na areia… quente e escabrosa, como eu!
Ofereço-te a minha praia inteira!

Às vezes tu dizias que eu era a tua sereia e eu gostava.
Gostava porque nesse tempo era só sedução…era jogo manobrado, diversão.
Nunca dei o mergulho e nunca pedi que o fizesses também..
Nunca deixei que fosses rede.
Eras tão-só um isco que nunca mordi.
O mar era turvo, revolto e de um vermelho berrante.

Agora, ao invés…
Concedo-te a fantasia de seres peixe e mergulhares em mim.
Mergulha no meu corpo que é o teu mar…
Mergulha!
Faz do meu peito a tua enseada, o teu regaço mais abrigado.
Concedo-te a graça de seres o imperador do meu mar.
Que cada seio seja uma onda agitada que se levanta para ti.
Que as domines, mas que ainda assim te sejam um desafio.
Que o meu mar se abra para que lhe conheças o fundo.
Mergulha no meu íntimo, no mais profundo de mim.
Eu quero…
Transforma o vermelho em verde água limpo.
Quero ser-te cristalina.
Quero ser-te verde, de uma esperança pura.
Acho que te amo…

Concedo-te o desejo de seres o sal da minha água.
E que a equilibres ao teu gosto…
Água doce é insossa e salgada demais traz secura.
Quero ser a tua praia, vem à minha praia!


Sê peixe, sê pirata, sê criança, sê senhor, sê sal, sê doce.
Sê o que quiseres.
Mergulha no meu mar.
Faz castelos de areia.
Mexe nas minhas cores e mistura-as, se quiseres.
Controla a minha rebentação e as minhas ondas.
Deixa pegadas longas e sem fim.
E no fim, cansado e realizado deita-te sobre a areia.
Com calma… sereno!
Que se levante uma brisa melodiosa e suave.
Nesse momento, verás tudo voltar ao seu lugar.
A paisagem difusa e fosca converter-se-á na mais nítida de sempre.
A lúz fechada e trémula abrir-se-á num radioso sol que jamais viste.

Ofereço-te a minha praia completa!
Vem... fica... sê meu… e pronto, ama-me!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

...sou uma exaltada

"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!"


Florbela Espanca, Carta a Guido Battelli

sábado, 13 de novembro de 2010

A morte é nada


De que vale amaldiçoar os céus?
De que vale pedir tempestades de sentimentos?
Transformar a vida num mar escuro de arrependimento.
Dilúvios de lágrimas vivas.
Não posso fazer o tempo seguir o sentido inverso...
E se tal proeza conseguisse, nada seria como antes.
Entende...
Partimos a bola mais importante do malabarismo do amor.
Vamos apanhar os cacos do chão?
Para quê?
Há-de faltar sempre um pedaço irrecuperável... irrecuperável como aquele nós!
Não te censuro.
Não me culpo.
De que vale o ódio senão para dar-mos um ao outro uma importância que já não temos...
Ou não deviamos ter!
De que vale recusar o futuro?
De que vale impregnar as fotografias de pragas?
Nada muda... nada melhora... nada volta...
E se volta, não volta ao mesmo lugar.
De que vale desejar a morte?
A morte é nada...
E nada já somos nós!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Ousadia de Amar

Vergo-me numa vénia sentida.
Prostro-me sem vergonha nem timidez.
Ergo os braços ao céu num gesto de profunda veneração.
A ele solto um alto grito de estima e agradecimento…
Felizes dos destemidos de amor e dos arrojadamente amantes,
Honrados os que ousam sentir!
Estendo-me aos pés dos que têm o coração a doer,
Porque o amor também dói,
Amar é, tantas vezes, um abraço forçado com a desilusão.
Amar é viver, é uma valente ousadia,
Louvados os emocionalmente audazes!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Amizade


Amizade é o entendimento supremo de duas almas que não têm que ser iguais ou perfeitas, é amar ferozmente a imperfeição do outro e perdoar as suas falhas.
É ter a coragem de lutar à frente do nosso amigo em qualquer batalha, mesmo que não seja nossa, é amparar golpes profundos e beijar feridas.
Sentimento de dedicação, partilha, entrega e fé que nos deixa rir, chorar, amar e sonhar sem nunca deixarmos de ser nós, porque nele não há espaço para restrições.
Não há traições nem desconfianças, há seguranças e mãos no fogo com a certeza de não nos queimarmos.
Amizade é um eterno amor que dispensa desfiles, artifícios e procissões de vanglória superficiais e plásticas.
Mas, é ostentar a vaidade e o orgulho no outro, não por quem os outros desejavam que ele fosse, mas por quem ele é.
E fazê-lo sem medos, segredos e preconceitos.
Ser amigo é aprender, crescer a cada instante e aceitar as diferenças, trazendo-as para um mundo não meu, não dele, mas um mundo nosso.
Sentimento de concórdia em que os silêncios e os olhos sussurram palavras de afecto em momentos de fragilidade e tragédia.
Este sentimento grandioso que nos alimenta o espírito e nos prova que vale a pena quebrar fronteiras e derrubar barreiras, a fim de encurtar as distâncias da física e da mente.
Ter um amigo é ser-se imortal, é viver para além da vida e da morte no coração de alguém, é não se estar só nunca, é sentir um coração bater em uníssono com o nosso.
Amizade é mais do que um pacto de sangue, muito mais do que corpos, é ter intensos e apertados abraços que nos resguardam o coração, numa comunhão de fidelidade.
Amizade é poder gritar ao mundo e aos céus, um alegre, apaixonado, encantador e agradecido Aleluia!