Rasgo a vontade em pedaços sem fim.
Indecifráveis, pequenos e escrupulosamente orgulhosos.
Sento-me e espero que se esgote naquela garrafa que abraço.
Há quereres desbotados e disparatadamente melindrados.
De um sentir incauto e demasiado frágil.
Deixo que a chuva escorra por mim e inunde tudo.
Que se encharquem todas as palavras e gestos rotos.
Quero fechar os olhos e ver o momento esvair-se.
Soltam-se os risos altos num tumulto de demência.
Entrego-me a uma dança de gestos confusos e tortos.
Prenúncio de indiferença de uma dignidade forçada e azeda.
Sorte ridícula de uma coragem que chega tarde.
Agora não há já nenhuma pressa.
Há só uma vontade de recusar um amor mutilado.
Na certeza de que a vida não se basta a metade.
Respiro fundo e, entre longos tragos, vou bebendo.
Tem sabor de liberdade.
Recomponho o veludo esfarrapado de uns joelhos massacrados.
Se nos deram pés não foi para rastejarmos.
Ergo a cabeça e, com calma, sigo adiante em passos de paz.
Agrada-me que o dilúvio apague as pegadas que deixo para trás.
Porque o que ali fica não chega…
Está muito bom.
ResponderEliminarMuito obrigada!
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