quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Lá estavas tu...


Lá estavas tu, sabia que ias lá estar.
Não te reconheci…
Esperei uns longos instantes e não fui capaz de reconhecer em ti, ou em algum pormenor, o homem que amei.
E estavam lá as mãos, as mesmas mãos, mas sem música.
Não vi música nas tuas mãos.
Estavam os olhos, mas esses eram já outros.
Não vi as estrelas nos olhos.
E as botas, as mesmas botas castanhas esmurradas, não tinham já aquela essência selvagem.
Compraste-as para me agradar….lembro-me!
Mas, as botas são de outro agora porque não te vi.
O tempo tem-se encarregado de te acentuar as rugas e os anos que nos separam.
Essa diferença sempre te provocou um aperto no peito.
O teu semblante carregado e pesado, denuncia o marasmo que em que a tua vida se tornou.
Sem o turbilhão, o arrebatamento… o fascínio da surpresa.
Sempre te disse que a felicidade não vem com a solidez dos sentimentos pesados e medidos.
Esforcei-me, as palavras não foram suficientes e os gestos, esses, tu nunca entendeste.
Onde está o teu brilho e o teu sorriso pronto?
Eu sei.
Ficaram perdidos para sempre naquele dia em que foste embora e decidiste-te pelo caminho paralelo e tão longe do meu.
Apostei tudo numa partida que, no meu íntimo, já sabia perdida.
Lá estavas tu preso ao silêncio do orgulho, distante.
Senti frio, um triste frio que me gelou as lágrimas perante uma realidade que não quis ver, que jamais imaginei ou esperei que fosse verdade.
Não vi o céu no teu regaço, nem o mar na tua boca.
Não pensei nas metáforas que a beleza da tua imperfeição me despertava sempre.
Não tive grandiosidade no meu espanto, não senti a leveza que os seres especiais nos despertam à vista.
Não vi nada de dimensões encantadas.
Outrora os elogios exaltados não chegavam, agora são demasiado para ti, para o que vejo.
Porque o que vejo, é o que lá está…
Tu já não és tu, não te conheço!

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