sábado, 27 de fevereiro de 2010

Promessas

Não foi amor que te prometi, nem o eterno esplendor do coração.
Melodias, longos abraços, olhos cintilantes… não!
Não te prometi nada que com tal se confunda ou pareça.
Nem céu, sol nem mar…Só um humilde chão quente para a ocasião.
Prometi um genuíno momento.
Intenso, mas apenas um momento.
Não te prometi laços profundos, foram simples mãos e braços.
Percorrer caminhos lado a lado, não prometi!
Porém, dei-te pernas… Duas pernas numa dança envolvente.
Dei-te um corpo despido, sem futuro nem paixão.
Prometi amizade, muito respeito e cumplicidade talvez!
Nunca te prometi sermos mais do que, alguma vez, poderíamos ser…
E somos tanto!
Não te prometi fidelidade, deixa isso para os casais!
Não fiz promessas exageradamente loucas e grandiosas.
Tenho para mim que quem as faz, mente demais… ou muito ama.
E, bem sabes, que jamais proferi dessas requintadas mentiras de veludo!
Prometi apenas o que sabia certamente possível, sem réstia de incertezas ou erróneas esperanças.
Pois então, não me culpes… o "sem amor" não quer culpas!
E as mágoas são tristes pesadelos que não deves guardar.
Poderia usar esse velho e esfarrapado chavão, esse ridículo de mereceres melhor.
No entanto, não é melhor nem pior…mereces, como qualquer pessoa, amor, só isso!
Por isso, mesmo doendo, dou-te a tão seca verdade…
Sim… não te amo!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Fecho a Ferida

Fui tudo sem medida,
Tive o céu e o mar.
Agora uma perdida,
Com esta falta de amar.

Ouço os prantos,
Mas largo a dor.
Os erros foram tantos,
Não guardo rancor.

Não importa a razão,
O coração diz que sim.
Concedo-te o perdão,
Num abraço sem fim.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Lá estavas tu...


Lá estavas tu, sabia que ias lá estar.
Não te reconheci…
Esperei uns longos instantes e não fui capaz de reconhecer em ti, ou em algum pormenor, o homem que amei.
E estavam lá as mãos, as mesmas mãos, mas sem música.
Não vi música nas tuas mãos.
Estavam os olhos, mas esses eram já outros.
Não vi as estrelas nos olhos.
E as botas, as mesmas botas castanhas esmurradas, não tinham já aquela essência selvagem.
Compraste-as para me agradar….lembro-me!
Mas, as botas são de outro agora porque não te vi.
O tempo tem-se encarregado de te acentuar as rugas e os anos que nos separam.
Essa diferença sempre te provocou um aperto no peito.
O teu semblante carregado e pesado, denuncia o marasmo que em que a tua vida se tornou.
Sem o turbilhão, o arrebatamento… o fascínio da surpresa.
Sempre te disse que a felicidade não vem com a solidez dos sentimentos pesados e medidos.
Esforcei-me, as palavras não foram suficientes e os gestos, esses, tu nunca entendeste.
Onde está o teu brilho e o teu sorriso pronto?
Eu sei.
Ficaram perdidos para sempre naquele dia em que foste embora e decidiste-te pelo caminho paralelo e tão longe do meu.
Apostei tudo numa partida que, no meu íntimo, já sabia perdida.
Lá estavas tu preso ao silêncio do orgulho, distante.
Senti frio, um triste frio que me gelou as lágrimas perante uma realidade que não quis ver, que jamais imaginei ou esperei que fosse verdade.
Não vi o céu no teu regaço, nem o mar na tua boca.
Não pensei nas metáforas que a beleza da tua imperfeição me despertava sempre.
Não tive grandiosidade no meu espanto, não senti a leveza que os seres especiais nos despertam à vista.
Não vi nada de dimensões encantadas.
Outrora os elogios exaltados não chegavam, agora são demasiado para ti, para o que vejo.
Porque o que vejo, é o que lá está…
Tu já não és tu, não te conheço!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

As Minhas Mãos

Leva-me tudo!
Deixa-me apenas a sensibilidade…
É ela que me sussurra.
E pelas minhas mãos te fala.
Peço-te que me deixes as mãos.
São as minhas mãos que te escrevem…
E te tocam!

Escrever é um processo de regresso a ti...
Só assim te sinto!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Velho Banco

Gosto daquele velho banco da praça.
Que foi ali ficando meio perdido, propositadamente esquecido e só.
Tão anonimamente conhecido.
Banco meio coxo de pedra gasta e macia.
É de um acinzentado nu e brilhantemente polido pelo tempo.
Valente sobrevivente, pobre de elegância e tão valioso de testemunhos.
Sem a imponência digna de um postal de recordação.
Porém, eternizado na memória de muitos.
Inspirou poetas e serviu artistas.
Histórico palco de entusiasmantes encontros.
Nele se cravam também longas despedidas.
Impregnado de momentos à roda dos quais pairam sentimentos genuínos.
Docemente acarinha os que, como ele, andam eternamente sós.
Sós na vida ou naquela praça sem idade.
Já foi casa despida em tantas noites de solidão.
E reconfortante pouso em tardes quentes de sol escaldante.
Silencioso confidente e servo ouvinte dos que lhe abrem a alma.
Companheiro dos pássaros, seus fiéis guardiães que lhe trazem uma exclusiva melodia.
Um firme abraço sem braços, sempre tão seguro.
Constantemente disputado e ocupado, sendo de igual forma irmão do abandono.
Ás vezes quente, às vezes frio.
Fiel ao turbilhão da sua praça movimentada e ao tropel que, de vez em quando, por ali passa.
Gente que o olha, mas não o vê.
Alguns nem o sabem ali, estando ele sempre lá.
Preso na sua imobilidade a um chão que não é seu.
Sem ser dono de si consegue ser dono de uma esplêndida vista do rio.
Nobre banco que não se cansa, não foge e não escolhe.
Tão meu e de toda a gente.
Gosto daquele meu velho e singelo banco sem fama…
O seu único nome é somente banco da praça.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Encantamento

Fim de tarde de pôr-do-sol pigmentado de alaranjado com timbres de púrpura.
O mar numa ondulação adormecida.
O "tschh tschh" penetrante das suas ondas leva-me os pensamentos.
Uma brisa insinuante ousa tocar-me com os seus dedos quentes.
Há música de tom teatral na paisagem.
As borboletas irrompem na sua interminável e exuberante dança de purpurinas.
Há suaves batimentos vindos do solo.
Ou talvez vindos de dentro de mim.
Não sei, não sou capaz de distinguir.
Ouço pássaros que avançam.
Escuto-os na ânsia desesperada de uma novidade acalentada.
Melodicamente gritam-me palavras de ordem reveladoras.
Sou invadida.
Surpreendentemente, pego em mim e levanto-me, sem esforço, daquele banco de pedra envolto em flores silvestres.
Obedeço apaixonada às melodias e aos mandamentos que me chegam do ar.
Saio.
E…vou amar.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ah... Dá-me Beijos!


Dá-me beijos.
Dá-me beijos quando a lua nos abraçar.
Ou quando o sol nos sorrir.
Quando voarmos de asas esplendorosamente cálidas, nesse momento, dá-me beijos.
Dá-me beijos por entre as altas árvores da floresta mágica.
Beijos na areia cristalizada daquela praia quase secreta ou na montanha da paz.
Quando partir e voltar, quero que me beijes.
Quero a memória dos beijos que passam, quero vinho a transbordar, quero o mar no leito, quero tudo…
Ah, mas quero beijos, desses beijos, muitos.
Se resolver seguir a estrada fascinante do abismo, e se cair, espero que mesmo assim me beijes.
Dá-me a mão e os teus esperançados braços, naquele abraço profundo.
Naquela rua perdida, na janela companheira da noite, nos excessos e na calmaria, dá-me um beijo.
Cobre-me.
Quando sentires o cheio da terra molhada e rolarmos sob as folhas de seda, num movimento exageradamente longo, de uma dança intimamente sublime e ofegante, dá-me beijos.
Intermináveis. Quentes. Robustos.
Se eu for, se tu não ficares, beijemo-nos para sempre naquela nossa realidade tão imaginária.
Ficará o nosso segredo, eternamente agrilhoado naquele preciso beijo, desse dia nublado.
Se vier a sede de definhar, essa falta, os gritos estridentes e o fim dilacerante… beijos, quero beijos.
Languidez.
Dou-te tudo.
Dá-me amor, corações felizes, natureza selvagem, dá-me tudo.
Ar e todos os elementos possíveis.
Dá-me mais além.
Espero-te no sábio tempo de um regresso orgulhosamente inevitável.
O triunfo.
Dá-me loucura de sensações e sentidos, demência de sentimentos.
Paladares e perfumes aromatizados de encantamento.
O desconhecido e o impossível.
Dá-me mais qualquer coisa.
Ah…
Mas, dá-me beijos.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O vento não se vê,sente-se...

Foste aprendendo, tal como eu, que nem sempre temos connosco as pessoas que amamos.
Um dia poderás não me ter por perto, poderás simplesmente nunca mais me ter.
Todos nós já perdemos alguém, todos acabam sempre por perder alguém.Lembrar-me-ei sempre de ti e sei que tu jamais me esquecerás…
Podes procurar-me sempre no baú e nas maiores loucuras que te vierem à memória… ah, e nas cartas, em todas as cartas enviadas e recebidas, nas que não foram entregues e nas que estão rasgadas.
Tenho a certeza que me vais encontrar no longo eco das gargalhadas profundas do passado, ao longe conseguirás ouvir-me, conseguirás ver o sorriso rasgado nesses momentos.
O passado...ah,o passado,esse misterioso imortal, esse maravilhoso passado que nos torna especiais na sua fascinante condição de não voltar.
Haverá momentos em que me vais tocar, em que te vou tocar, em que me vais sentir e pensar que estou contigo.
Encontra-me naquela árvore, naquela escada em frente ao mar onde entrei na tua vida e te gravaste na minha.
Estarei lá sempre que me quiseres.
Sente-me no vento, tudo o que eu sou está no vento… podes escutar-me a bater à tua janela quando o silêncio te fizer companhia.
Eu sou o vento,sou os nossos sonhos,os teus desejos,as minhas alegrias, ouves-me no vento, tudo o que eu sou voa no vento.
Quando a chuva molhar a terra, quando a terra se fizer lama e o vento se levantar e fizer rodopiar o pó, estarei a dançar para ti… serei sempre o par da tua felicidade.
Virei sempre pela noite, sabes que o sol me caracteriza, mas é a paz da noite que me alimenta, me ama e acompanha… pela noite dar-te-ei aquele abraço intenso e inquebrável.
Inquebrável como o nosso laço… para além da vida e da morte, vou estar contigo.
Estarás sempre comigo, estarás no brilho dos meus olhos, na minha gargalhada, nas minhas mãos, na minha boca.
Poderão todos ver-te em mim… da maneira mais discreta.
Lá fora está sol…consigo ver-te…cheiro-te e retenho-te no vento...